Arquitectura
Casa Tilt: uma casa inclinada em Gondomar
Em Gondomar, foi construída uma “casa térrea que não parecesse uma casa térrea”, com um volume inclinado.
Localizada em Valbom, Gondomar, a Casa Tilt destaca-se na zona maioritariamente residencial pela imponente “volumetria principal” inclinada, que Daniel Capela Duarte, sócio da Mutant e autor do projecto de arquitectura, descreve ao P3 como a “casca da casa”. O grande objectivo (e desafio) do projecto foi criar uma “casa térrea que não parecesse uma casa térrea”, a pedido do cliente.
“Feita numa estrutura mista de betão armado e metal” e com duas frentes, a habitação tem o logradouro (com piscina) e a sala virados para uma “rua com maior movimento”, de acordo com Daniel. De forma a salvaguardar a privacidade dos habitantes e a “proteger” as áreas “onde poderá haver uma componente mais invasiva” relativamente ao que “é visto do interior da casa”, o arquitecto optou por um movimento de rotação, em três eixos, de um volume suspenso sobre a sala.
“Esta alteração da volumetria fez com que as pessoas que estão no prédio [do outro lado] não conseguissem ver para a zona mais social da casa”, afirma ao P3. Além deste elemento foi também construído um “ripado de madeira numa posição implantada na diagonal” para “criar um efeito de pestana em relação ao vidro virado para a rua", servindo como um “filtro visual”.
Havendo também uma atenção acrescida à “posição em relação ao Sol, em relação aos pontos cardeais”, o autor da Casa Tilt decidiu colocar a sala no “lado poente”, enquanto a zona destinada aos quartos ficou no “lado nascente” de maneira a “deixar entrar o Sol e a não pôr em causa a entrada da luz”. Já a cozinha foi implantada na área central da habitação, tornando-se num ponto de ligação entre os diferentes espaços.
Para haver um maior “contraste”, Daniel escolheu uma paleta de cores à base do branco (presente na “casca da casa”) e do preto, visível nas fotografias de Ivo Tavares. A segunda cor foi maioritariamente utilizada nas “molduras em alumínio” como forma de “protecção do próprio vão” das janelas, e na base para a entrada e escadas.
A zona de Gondomar, próxima do rio Douro, tem “muito potencial” e “está a ter uma procura incrível”. “Existem várias pessoas que não são de Gondomar a construir casa, aqui perto do rio, pela proximidade ao Porto, [pelos] bons acessos e [pelo] preço dos terrenos que existem, significativamente mais apelativos”, justifica.
Para Daniel, a caixilharia e a “construção do volume suspenso da zona da sala” foram os maiores desafios com que se deparou no projecto, tendo este último elemento sido a “parte mais complexa”. Contudo, destaca o trabalho das pessoas que ajudaram na projecção e construção, admitindo que a execução da obra é “primordial”. As “ideias poderiam ficar no papel se em termos de execução não fossem implementadas de acordo como foram pensadas”.
Texto editado por Ana Maria Henriques