Venezuela liberta dois norte-americanos depois de receber uma delegação dos EUA para falar da crise energética

A Administração Biden insiste que não há relação entre os dois temas, mas depois de cortar a importação de petróleo russo, a aproximação ao Governo de Maduro levanta questões sobre uma possível normalização da relação entre os dois países

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Protesto contra a Rússia e a guerra na Ucrânia em Caracas LEONARDO FERNANDEZ VILORIA/Reuters

Tantas vezes repetida, a máxima de que a guerra traz oportunidades para alguns volta a ficar demonstrada na forma como a Administração de Joe Biden se aproxima do Governo de Nicolás Maduro, da Venezuela, numa altura em que o corte da importação de petróleo russo por causa da guerra na Ucrânia obriga os Estados Unidos a procurar outros fornecedores que ocupem o lugar da Rússia.

O encontro de mais alto nível desde 2019 entre os dois países resultou, na terça-feira, na libertação de dois cidadãos dos Estados Unidos que estavam presos na Venezuela: Gustavo Cardenas, um dos seis executivos da petrolífera Citgo detidos em 2017, e Jorge Alberto Fernandez, um cubano-americano que havia sido detido junto à fronteira com a Colômbia.

Este aparente gesto de boa vontade está relacionado com a visita da delegação norte-americana a Caracas, que a Administração Biden reconheceu ter tido como objectivo discutir a questão energética, sem especificar se implicava aliviar as sanções ao Governo de Maduro em troca do petróleo de que os EUA precisam.

Esta aproximação entre Washington e Caracas deixou a oposição venezuelana numa posição difícil: “O levantamento de qualquer medida de pressão, se não estiver orientado para a democratização, apenas fortalecerá o autoritarismo que ameaça o mundo”, referiu o bloco opositor em comunicado.

Joe Biden limitou-se a festejar “o regresso de Cardenas e Fernandez” e a lembrar as histórias de todos os norte-americanos que continuam “detidos injustamente contra a sua vontade” em vários países do mundo, tendo a sua enumeração encarreirado a Rússia logo a seguir à Venezuela, numa lista que incluiu o Afeganistão, a Síria, a China e o Irão.

“A tão esperada libertação dos americanos”, escreve o Washington Post, “assinala um possível degelo na relação entre o Governo Biden e o regime de Maduro, o aliado mais importante da Rússia na América do Sul, e ocorre no momento em que o Governo dos EUA tenta isolar o presidente russo Vladimir Putin após a invasão da Ucrânia”.

A Venezuela, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, passou em 20 anos de produzir três milhões de barris diários para apenas 800 mil, tendo por isso espaço para aumentar a produção, desde que se levantem as sanções, nem que seja em parte, e que possa vender no mercado internacional.

Na segunda-feira, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, não quis comentar se Washington pensava reatar a relação com o Governo de Maduro devido à necessidade de petróleo. “Isso é saltar muitas etapas”, afirmou, garantindo que a libertação dos norte-americanos detidos na Venezuela não estava relacionada com o levantamento das sanções.

Nicolás Maduro confirmou, numa declaração na televisão pública, que recebeu oficialmente a delegação norte-americana. “No último sábado, uma delegação do Governo dos Estados Unidos da América chegou à Venezuela; recebi-a aqui no palácio presidencial.” O chefe de Estado venezuelano classificou “o encontro” como “respeitoso, cordial, muito diplomático”.

Fontes da oposição venezuelana disseram à Europa Press que o líder opositor Juan Guaidó não considera o encontro entre a delegação norte-americana e o Governo de Maduro como uma afronta, garantindo que tinham sido informados de antemão da visita e que também se encontraram com os homens enviados pela Administração Biden.

Além disso, Washington insiste que não houve qualquer mudança na sua política em relação à Venezuela e que continua a “reconhecer a liderança de Guaidó”, como referiu a secretária de Estado adjunta para os Assuntos Políticos dos EUA. Em resposta a uma pergunta do senador Mark Rubio, do Partido Republicano, Victoria Nuland foi peremptória: “Não há nenhuma mudança na nossa estratégia.”

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