Grupos europeus de energia são dos mais expostos à economia russa

Há grupos da União Europeia, Reino Unido e Ásia cuja exposição à Rússia, num contexto mútuo de sanções, pode vir a condicionar a sua actividade futura. As reservas naturais de gás natural, petróleo e minerais são a maior fonte de dependência.

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Gasoduto NordStream 2 concentra parte dos interesses energéticos de alemães e bitânicos na Rússia Reuters/Hannibal Hanschke

Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia e o conflito armado se desenrola no território ucraniano, interesses económicos e financeiros de Moscovo, de empresas russas e de investidores russos foram atingidos por sanções. Os efeitos das penalizações económicas já conhecidas, do seu eventual agravamento a curto prazo e de potenciais represálias de Moscovo podem vir a condicionar igualmente empresas internacionais com presença directa ou relações comerciais (importação e exportação de matérias-primas, bens intermédios e produto final) com o mercado russo.

Além das empresas e exportações portuguesas mais expostas ao conflito russo-ucraniano que hoje se vive, alguns dos principais grupos europeus e japoneses com presença multinacional podem vir a ser afectados.

BASF

A fabricante alemã de produtos químicos, com presença nos agro-químicos, é accionista da Wintershall Dea, uma das empresas que está a financiar o, agora suspenso, gasoduto Nord Stream 2. O outro co-investidor é o bilionário russo Mikhail Fridman, através da companhia LetterOne – igualmente accionista maioritário da cadeia de supermercados espanhola Dia (que em Portugal detém mais de 400 unidades de retalho alimentar). No Reino Unido, o bilionário já está sob foco, diz o espanhol Expansión. Segundo a própria BASF, 1% das suas vendas consolidadas têm origem na Rússia.

BP

A companhia petrolífera britânica é a maior investidora estrangeira directa na Rússia, detendo 19,75% do capital da Rosneft e participa em vários outros projectos de petróleo e gás na Rússia. A participação na Rosneft maior companhia de petróleo da Rússia, responsável cerca de 5% da produção mundial desta matéria-prima, foi aliás motivo de pressão do governo britânico sobre a BP. A Reuters adianta que Kwasi Kwarteng, o titular da pasta da Economia no governo de Boris Johnson, esteve esta sexta-feira em reunião à distância com o presidente executivo da BP, Bernard Looney, para expressar as suas preocupações.

O tema do diálogo entre o CEO da BP (que tem lugar no conselho de administração da Rosneft) e o titular das áreas de negócios, energia e estratégia industrial no governo britânico terá sido, adianta a agência noticiosa citando fontes não identificadas, a exposição da petrolífera do Reino Unido ao mercado russo. “A BP deixou a reunião [com Kwasi Kwarteng ] sem nenhuma dúvida sobre a intensidade da preocupação governamental com os interesses comerciais [do grupo] na Rússia”, acrescentou a fonte.

Coca-Cola HBC

A subsidiária inglesa do grupo norte-americano, cotada na praça de Londres, engarrafa o produto final que tem como destino os mercados russo, ucraniano e de grande parte da Europa de Leste. Com 7000 empregados na Rússia, este é um dos seus maiores mercados de venda.

Danone

Detentora da maioria de controlo da companhia russa de lacticínios Prostokvanhino, a fabricante de iogurtes francesa vai buscar cerca de 6% das suas vendas anuais à Rússia.

Engie

A companhia francesa de gás Engie, conhecida dos portugueses por ter pago 2,2 mil milhões de euros para comprar seis barragens no Douro à EDP em 2021, é uma das cinco financiadoras do projecto Nord Stream 2 da gigante russa Gazprom, agora com a certificação suspensa por Berlim.

Equinor

A petrolífera norueguesa tem participações minoritárias em três campos petrolíferos russos.

Generali

O maior grupo segurador italiano tem uma participação minoritária na congénere russa Ingosstrakh.

HeidelbergCement

A cimenteira alemã tem três fábricas na Rússia que, segundo informação do grupo citadas pela Reuters, só vende para o mercado russo.

Japan Tobacco

A companhia nipónica emprega cerca de 4000 pessoas nas suas fábricas russas, e, em 2020, pagou em impostos o equivalente a 1,4% do orçamento estatal da Federação Russa, reivindica a empresa no seu site oficial, citado pela Reuters. A Japan Tobacco realiza na Rússia e Bielorrússia cerca de um quinto dos lucros anuais.

Maire Tecnimont

O grupo de engenharia alemão tem uma carteira de encomendas de 1,5 mil milhões de euros na Rússia, representativo de 17% do total consolidado pela Maire Tecnimont a nível mundial. Uma das últimas adjudicações veio da petrolífera Rosneft, para um projecto na cidade russa de Riazã.

Marubeni Corp

O conglomerado japonês tem quatro escritórios na Rússia, onde vende pneus para equipamento mineiro e gere um centro de controlo sanitário.

Metro

O grupo de distribuição alimentar alemão, que em Portugal opera sob a marca comercial Makro (unidades grossistas) emprega cerca de 10.000 pessoas na Rússia, onde reivindica 2,5 milhões de clientes. Na Ucrânia tem 26 lojas.

Mitsubishi Corp

A empresa distribui veículos da Mitsubishi Motor através de uma rede de cerca de 141 concessionários na Rússia. Tem ainda uma participação no projecto de desenvolvimento de gás e petróleo Sakhalin II, que fornece ao Japão gás natural liquefeito (GNL), e comercializa carvão, alumínio, níquel, carvão, metanol, plásticos e outros materiais. Fornece também à Rússia equipamento para centrais eléctricas e maquinaria.

Neste

A companhia finlandesa de refinação conta com a Rússia para abastecer dois terços das suas necessidades de petróleo, mas garante que consegue “reagir de forma flexível” a mudanças nos mercados internacionais.

Nestlé

A maior produtora mundial de produtos alimentares tem seis fábricas na Rússia. Em 2020, a companhia suíça realizou vendas de 1,7 mil milhões de dólares (cerca de 1,5 mil milhões de euros ao câmbio actual) no mercado russo, segundo a Reuters.

Nokian Tyres

A fabricante de pneus finlandesa tem uma fábrica e operações armazenamento na Rússia. Parte da produção e dos stocks já foram transferidos para a Finlândia e para os EUA, segundo a agência noticiosa.

OMV

A companhia de gás e petróleo austríaca é uma das cinco empresas que estão a financiar o gasoduto Nord Stream 2. Detém ainda 24,99% na exploração de gás de Juschno-Russkoje. É, também, o maior importador de gás russo da Áustria.

Renault

O grupo automóvel francês faz 8% dos seus ganhos resultantes do principal negócio no mercado russo, segundo o Citibank, diz a Reuters. A Renault é ainda dona de 69% do capital social da parceria russa Avtovaz, responsável pela marca automóvel Lada, que realiza mais de 90% das vendas no mercado russo.

Rolls-Royce

A fabricante de motores britânica satisfaz 20% das suas necessidades de titânio, usado na construção de motores para a aviação, através da Rússia. O mercado russo, contudo, só representa menos de 2% das suas receitas totais, afirma.

Safran

O grupo francês de motores aeronáuticos tem a companhia russa VSMPO-AVISMA como maior fornecedora de titânio, embora a Safran garanta que, no total, o mercado russo é origem de menos de metade das suas necessidades.

SBI Holdings

O nipónico SBI Bank oferece serviços e financiamento a empresas japonesas que expandem as suas operações na Rússia

Shell

A companhia petrolífera anglo-holandesa possui 27,5% do projecto Sakhalin II de gás natural liquefeito, que tem uma capacidade anual de 10,9 milhões de toneladas e é operada pela russa Gazprom. É, também, uma das cinco co-financiadoras do Nord Stream 2.

TotalEnergies

A companhia petrolífera francesa Total é um dos maiores investidores na Rússia com uma participação de 19,4% na Novatek (segunda maior produtora de gás russa a seguir a Gazprom), uma participação de 20% na joint-venture Yamal LNG, de 21,6% no Arctic LNG 2, de 20% no campo petrolífero on-shore de Kharyaga e várias participações nos sectores das energias renováveis, refinação e produtos químicos do país, de acordo com o o site oficial.

Toyota

O grupo nipónico produz na fábrica em São Petersburgo os veículos de modelo Camry e RAV4, e tem um escritório de vendas em Moscovo. Conta com cerca de 2600 funcionários nas duas cidades russas.

Uniper

A companhia de energia alemã tem uma exposição de mil milhões de dólares ao Nord Stream 2, e é dona de cinco centrais eléctricas na Rússia, com uma capacidade combinada de 11,2 gigawatts, fornecendo cerca de 5% das necessidades energéticas totais daquele país. A Uniper e o accionista maioritário Fortum detêm em conjunto 12 centrais eléctricas na Rússia e empregam 7000 pessoas naquele país.

Volkswagen

O grupo fabricante alemão de automóveis tem duas fábricas e cerca de 4000 empregados na Rússia. Produziu cerca de 170.000 veículos em território russo em 2021, o que compara com 8,9 milhões de unidades vendidas em todo o mundo no ano passado pela VW.