Solidão aumenta o risco de doença cardíaca em mulheres com mais de 65 anos, indica estudo

Os resultados do estudo publicado na revista JAMA Network Open mostraram que, invariavelmente, o isolamento social aumentou as doenças cardíacas em 8% e a solidão influenciou também estas patologias em 5%.

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Entre Abril e Julho de 2020, um em cada quatro cidadãos da União Europeia relatava ter-se sentido sozinho. Unsplash/Alex Ivashenko

Para as mulheres mais velhas, a solidão e o isolamento social podem aumentar até 27% as hipóteses de desenvolver doenças cardíacas, avança o estudo publicado na revista científica norte-americana JAMA Network Open. Além das patologias do foro cardíaco, a investigação lembra outros efeitos do isolamento no bem-estar e na saúde, desde a demência às questões de saúde mental, tais como ansiedade e depressão.

Entre Março de 2011 e Março de 2019, o estudo de saúde pública acompanhou quase 58 mil mulheres na idade pós-menopausa. Os resultados mostraram que, invariavelmente, o isolamento social aumentou as doenças cardíacas em 8% e a solidão influenciou também estas patologias em 5%. Os efeitos foram ainda mais fortes entre as mulheres que relatam níveis elevados de isolamento social e solidão ─ nesses casos, o risco subiu para 13% e 27% respectivamente, quando comparados com mulheres da mesma idade que não relataram ter estes sentimentos.

De acordo com os investigadores, um quarto dos adultos com 65 anos ou mais estão socialmente isolados (as mulheres mais frequentemente do que os homens) e um terço das pessoas com mais de 45 anos sente-se sozinha. Embora semelhantes, a solidão e o isolamento social não são a mesma coisa, salvaguardam.

O isolamento social, descrevem, é como “estar fisicamente longe das pessoas”, enquanto a solidão é um sentimento “que pode ser experienciado mesmo por quem está regularmente em contacto com os outros”. Uma pessoa socialmente isolada nem sempre é solitária, e uma pessoa solitária pode não estar socialmente isolada.

É de ressalvar que o estudo publicado na JAMA Network Open foi levado a cabo antes da pandemia de covid-19 ter mudado o mundo e a forma como nos relacionamos uns com os outros. Segundo um estudo da Comissão Europeia, divulgado em Julho do ano passado, a solidão duplicou na União Europeia (UE) entre Abril e Julho de 2020, com um em cada quatro cidadãos a relatar ter-se sentido sozinho.

Há poucos dias, o director do Observatório da Solidão, Adalberto Dias de Carvalho, defendia que Portugal deveria criar uma Secretaria de Estado da Solidão. “A solidão tem causas e repercussões não só em termos da vivência individual, o que já por si é importante. Hoje em dia, há também o chamado PIB da felicidade e os países até são cotados numa hierarquia quanto ao grau de felicidade que é usufruído pelos seus habitantes. E a solidão não traz felicidade”, salientava.

Não traz felicidade, nem saúde. Recorde-se que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte das mulheres no mundo, representando 35% dos óbitos anuais, alertavam os peritos na revista médica The Lancet, em Maio do ano passado. Segundo a Sociedade Portuguesa de Cardiologia, em Portugal, morrem cerca de 33 mil pessoas devido a estas patologias.

Não é a primeira vez que estas emoções são associadas a doenças cardiovasculares ─ em 2016, um estudo publicado na revista Heart revelava que a solidão e o isolamento social estavam associados a um risco acrescido de 29% de um problema como um ataque cardíaco ou uma angina e de 32% de sofrer um AVC. A culpa, explicavam os investigadores, era de alguns comportamentos associados à solidão, como o tabagismo, o consumo de bebidas alcoólicas ou dietas ricas em gorduras saturadas.

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