Noble estreia Secrets: “Não devemos deixar nada por dizer, porque nada é garantido”
Segundo álbum do jovem cantor e compositor de Amarante, Secrets foi criado durante a pandemia e é esta sexta-feira lançado nas plataformas digitais. Eis Pedro Fidalgo, de novo na pele de Noble.
O seu nome é Pedro Fidalgo mas lançou-se na música como Noble, por ser o nome mais próximo de Fidalgo, como é tratado pelos amigos. Nascido em Amarante, a 22 de Agosto de 1996, andou por bandas de garagem até começar a compor as suas próprias canções. Em inglês, como o nome. O primeiro álbum, Honey, lançado em 2019, trazia a marca de um período difícil, no qual lutou com um grave problema de saúde. Recuperado, estreou temas como Coming Back e One more time (este gravado ao vivo na Casa da Música em 2019) e, nas vésperas do Natal de 2020, lançou, juntamente com Zé Manel, Syro, Meestre & Gabriela Couto, It’s Christmas Everywhere. Agora, lança o seu segundo álbum, Secrets, que traz também a marca de outro período difícil, já não só dele, mas à escala mundial: o da pandemia. Chega esta esta sexta-feira às plataformas digitais e tem uma particularidade: cinco dos dez temas do disco foram gravados em dueto com cantoras que também aqui se estreiam em disco, escolhidas através de um desafio lançado no TikTok.
“Durante a pandemia, como estava tudo parado, começámos a tentar desenvolver alguma coisa que nos motivasse. E pensámos nessa ideia dos duetos”, diz Noble ao PÚBLICO. “Juntámo-nos com a RFM, que foi um parceiro incrível para conseguirmos alcançar mais pessoas, e os resultados foram inesperados: cativou muita gente, teve participações de todo o lado. Através do TikTok apareceram 400 e tal candidatas (tivemos mais de três milhões de visualizações, quase quatro milhões, nessa altura), o que acabou por tornar mais difícil a escolha. Primeiro, reduzimos a lista para quinze vozes, das quinze conseguimos reduzir para dez e foi aí que fizemos o desafio da final, no auditório da RFM, com as finalistas a cantarem comigo. Depois, os nomes foram postos a votos no site da RFM e foram seleccionadas essas cinco, as que tiveram mais votos.”
Cinco cantoras para cinco canções
É assim que, no álbum, o ouvimos a cantar I do c/ Nii, Where are you now com Bea Moreira, Home com Ema Monteiro, Secrets com Maria Fernandes e Just for you com Andrea Vergel. A par destas canções, há ainda Beautiful (a primeira a ser lançada em single, há quase um ano, em Abril de 2021), Fire with fire, God’s letter e Lost inside, esta gravada com as vozes do Lucis Chorus.
“Muitas foram escritas durante a pandemia, mas algumas já era mais antigas, como é o caso do Fire with fire ou God’s letter, que já foi escrita há algum tempo e retrata aquilo que muitas vezes nós gostávamos de ouvir de alguém que tem uma opinião muito forte, na nossa vida, e que pode ser um pai, um familiar. Chama-se God’s letter por causa disso. Já o Lucis Chorus é um coro de igreja, de Vouzela, com vozes masculinas e femininas. Na música Lost inside, cantam do princípio ao fim, mas também participam no God’s letter e no Just for you.” A ideia foi de Rui Saraiva, que além de assinar com ele a grande maioria das canções, também participa como músico no disco e assegura a produção. “Eu tinha-lhe dito que gostava de ter vozes corais e ele, que tinha trabalhado com o Lucis Chorus, falou com o maestro deles, que adorou a ideia de participar no disco.”
A parceria com Rui Saraiva em oito das canções do disco (excepto God’s letter e Home) resulta do método de trabalho usado: “Na verdade, nenhuma das canções é só minha, porque apesar de começar com a ideia e fazer as letras, o trabalho de produção acaba por ser feito em conjunto com ele e com uma série de outras pessoas com quem temos vindo a trabalhar ao longo do tempo.”
Do saxofone ao piano
Hoje Noble compõe ao piano, mas não foi esse o seu primeiro instrumento. “Eu tinha tocado saxofone, aos 12 anos. Entretanto desapaixonei-me pelo instrumento e quis tocar guitarra, sob influências de músicas como o Sultans of swing, dos Dire Straits, que o meu pai punha muito a tocar no carro. Mas os meus pais disseram-me que eu tinha de dar valor às coisas, que já tinha o saxofone e enquanto não mostrasse que era mesmo aquilo que queria, não havia guitarra para ninguém. Então, fiz o que qualquer criança da minha idade faria: fui pedi-la à minha avó.” E a avó comprou-lhe uma. “Já tinha um amigo que tocava, e, coitado, obriguei-o na garagem lá do nosso prédio a ensinar-me a tocar o dedilhado inicial do Don’t cry, dos Guns & Roses. Comecei logo por uma música dificílima… E ele, entre frustrações e berros, lá conseguiu ensinar-me aquilo. Cheguei a casa, mostrei aos meus pais e o meu pai disse: ‘Pronto, afinal és capaz de ter jeito’.”
O jeito deu-lhe para fazer canções. “Escrevo maioritariamente em inglês. Escrevi muitas coisas em português, quando era mais novo, mas o inglês acabou por ser uma forma de me expor mais facilmente, porque funciona como um manto de invisibilidade, por ser uma língua que não é a nossa. Sei que isto já não se justifica, porque toda a gente percebe inglês, mas psicologicamente ajuda, para poder ser um bocadinho mais profundo naquilo que escrevo e naquilo que faço.”
E para isso já não recorria à guitarra, mas sim ao piano, a sua escolha mais recente: “Sempre foi um instrumento que me cativou muito. Para mim, é o instrumento mais completo que existe e mais versátil, principalmente para compor canções.” Foi aprendendo, sozinho, e começou a usá-lo frequentemente para compor, acabando também por tocar piano em duas das faixas deste disco.
Springsteen e segredos
Em termos de influências, se na juventude citaria Dire Straits, Guns & Roses ou os Nirvana (teve uma banda de tributo, com os amigos) e hoje admira, entre outros, Beyoncé, é Bruce Springsteen o nome que indica com maior fervor: “Primeiro, é um letrista incrível, identifico-me muito com a escrita dele. No espectáculo que ele fez na Broadway, ele dizia que era um bom ilusionista, porque levou a vida a enganar as pessoas, a cantar histórias que não eram dele e nós acreditávamos que eram. Mas o que me cativa mais nele é como performer: ao vivo, é uma coisa do outro mundo.”
Com este novo álbum, influenciado pela pandemia, Noble quer transmitir algo que acha muito importante: “Este álbum chama-se Secrets porque contém algumas coisas que eu deixei por dizer nas minhas relações pessoais, mesmo com a minha família, e algumas coisas que gostava de ter ouvido. O que quero transmitir, é: não devemos deixar nada por dizer, porque nada é garantido. E isso viu-se agora, com esta pandemia. Que, e daí a inspiração do disco, veio mostrar que nada é garantido, muito menos as pessoas que estão à nossa volta e as relações com essas pessoas.”
A par do lançamento do disco, estreia-se também um novo single e videoclipe, o do tema-título (Secrets). E, ainda sem concertos marcados a breve prazo, a apresentação será feita num vídeo: “O disco é apresentado, no dia em que sai, num curto vídeo que é um concerto ‘360’, mas com uma roupagem um bocadinho diferente. Porque é um ‘360’ feito em 24 horas, acompanhando-me ao longo de um dia, do acordar até ao anoitecer, a tocar estas canções em vários momentos e em vários pontos do país, tanto sozinho como com as meninas que fazem parte do disco.”