Rostos de “gente esquecida” durante a pandemia no Alto Douro Vinhateiro

A estudante de comunicação social Ana Marques conheceu "a realidade de quem vive isolado e sofre com isso", no município de São João da Pesqueira, e desenvolveu o projecto (Sobre)viver em Pandemia, em exposição até 31 de Janeiro.

©Ana Marques
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Em Março de 2021, a estudante de comunicação social Ana Marques, natural da vila de São João da Pesqueira, do distrito de Viseu, ganhou coragem, muniu-se da sua câmara fotográfica e foi ao encontro de "estórias de gentes esquecidas" da sua terra, na região do Alto Douro Vinhateiro. Assim, durante os primeiros meses de vacinação dos mais velhos contra a covid-19, Ana percorreu, na companhia de duas equipas de apoio à comunidade constituídas pelo município para o combate ao isolamento, as aldeias de Casais do Douro, Ôlas, Vale de Vila, Espinhosa do Douro e Sarzedinho. O conjunto de imagens que resultaram no projecto (Sobre)viver em pandemia, em exposição na Biblioteca Municipal de São João da Pesqueira até 31 de Janeiro, levanta o véu sobre o impacto das medidas de contenção do vírus sobre uma população envelhecida residente numa zona geograficamente isolada.

Em geral, Ana sente segurança ao afirmar que "as pessoas estavam psicologicamente cansadas da pandemia", conta ao P3. "Posso dar o exemplo de uma senhora que nos confessou, enquanto passávamos numa rua, que não sentia sequer vontade de sair e de conversar com uma vizinha, sua amiga." Ana recorda, também, o dia em que conheceu a D. Eugénia, na pequena aldeia de Vale de Vila. "Recebeu-nos de braços abertos, com uma alegria e uma boa disposição que nos surpreendeu muito", descreve. Pouco tardou até se juntarem à conversa as vizinhas. "No fundo, precisavam de conversar por se sentirem isoladas e solitárias." O irmão de Eugénia vivia acamado e a idosa fez questão que a equipa fosse vê-lo. "Acho que o que ela realmente queria que nós percebêssemos quão duro era cuidar de uma pessoa naquelas circunstâncias e do que significa estar fechada dentro daquela casa."

Conheceu outros idosos e perdeu, muitas vezes, noção do tempo durante as visitas. "Chegámos a sentar-nos numa garagem à conversa com duas vizinhas por mais de duas horas", recorda. Em quase todos os casos, falavam das saudades da família, das preocupações com a saúde e da ausência das "coscuvilhices típicas de aldeia que também fazem parte". E também da falta dos bailes, das sessões de fados e de cinema que a Câmara Municipal interrompeu para evitar ajuntamentos.

O despovoamento do interior preocupa Ana Marques, que conhece "a realidade de quem vive isolado e sofre com isso". "É preciso olhar atentamente para o que foi feito, analisar o resultado das visitas e, com isto, no futuro, tentar procurar medidas adequadas a que este isolamento possa ser revertido", conclui. "É através desta proximidade que poderemos identificar os problemas existentes; é conhecendo a população e sabendo do que precisam que poderemos, a seguir, actuar em prol do futuro."

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