De baús anónimos saem fotografias que são “tesouros do nosso passado colectivo”

The Anonymous Project reúne fotografias privadas que ficaram perdidas no mundo e no tempo, desde os anos 1940 até ao advento do digital. "Muitas vezes engraçadas, surpreendentes, enternecedoras, estas imagens contam as histórias das nossas vidas."

©The Anonymous Project / Lee Shulman
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©The Anonymous Project / Lee Shulman

Antes da internet, do surgimento da fotografia digital e de plataformas online como o Instagram ou o Snapchat, as pessoas já fotografavam os momentos importantes (e mundanos) das suas vidas. Retratavam os seus entes queridos, documentavam os passeios e férias, as festas e momentos áureos. Tipicamente, as fotografias ficavam armazenadas em álbuns de família ou em caixas de slides - que podiam ser manuseados, no primeiro caso, ou retroprojectados, no segundo. Com a passagem do tempo, muitos desses pequenos contentores de memórias acabaram esquecidos em sótãos ou caves; mas nem todos. Feliz ou infelizmente, outros acabaram em sites de venda online ou em bancas de feiras de rua.

Em 2017, o realizador de cinema britânico Lee Shulman encontrou, enquanto "remexia" nas entranhas do Ebay, uma caixa cheia de slides antigos que pertenciam a um particular. Não resistiu e comprou-a. Esperou ansiosamente até tê-la nas mãos, mas a espera compensou: quando a abriu pela primeira vez, sentiu ter descoberto uma janela única para o passado. Apaixonou-se pelas pessoas que viu retratadas e pelas histórias contidas em cada imagem. A sensação nunca mais o abandonou e a colecção foi crescendo, crescendo. Até que ganhou forma. The Anonymous Project, que nasce da cooperação entre o coleccionador britânico e a curadora francesa Emmanuelle Halkin, é um arquivo composto por fotografias amadoras de autores desconhecidos de todas as partes do mundo que datam da década de 1940 em diante. "Muitas vezes engraçadas, surpreendentes, enternecedoras, estas imagens contam as histórias das nossas vidas", pode ler-se no site do projecto de found photography

Coleccionar e preservar slides antigos, únicos e inéditos, nasceu do desejo de dar uma segunda vida, um novo propósito, a imagens, pessoas e momentos que ficariam para sempre esquecidos e privados do conhecimento público. Mas não só. "A maioria dos slides a cores não sobrevive para além dos 50 anos", explica Lee Shulman. "A menos que se tomem medidas urgentes, estes pedaços coloridos da nossa memória colectiva acabarão por se desvanecer."

Durante o primeiro ano do projecto, a dupla de curadores trabalhou com cerca de 400 mil fotografias. "Um número impressionante", refere Lee. "Nunca pensámos que tivéssemos tantas." Dessas seleccionaram apenas 300 para publicação nas plataformas digitais e em livro. Quais os critérios da edição? "Procuramos imagens que tenham histórias dentro", explica Emannuelle. "Uma pessoa com um cão, alguém a mergulhar na piscina, uma celebração familiar ou um grupo de amigos a divertirem-se", exemplifica. "Por vezes, recebemos remessas de 5000 imagens e seleccionamos apenas 20, as que consideramos realmente boas." Desde 2017, o coleccionador britânico já adquiriu mais de 700 mil imagens - algumas foram doadas, outras compradas - e já editou oito fotolivros.

Lee Shulman continua, passados quase cinco anos desde o início do projecto, a sentir a mesma emoção ao ver pela primeira vez um slide desconhecido. "Quando pegamos num slide, ele está como que apagado; só quando o colocamos contra a luz é que se torna num elemento vivo." Mas o que move Shulman não é o objecto em si, mas sim as pessoas. Considera-se "um coleccionador de emoções da memória colectiva". "É [a emoção] que nos une, é ela que nos torna humanos", conclui. E é emoção que respira (ainda) nas imagens que reúne e dá a conhecer ao mundo.

©The Anonymous Project / Lee Shulman
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