Rui Moreira abre portas do Bolhão a Casa Chinesa em caso de despejo

Mercearia fina deverá receber classificação de loja histórica nos próximos dias. Se selo do Porto de Tradição não evitar despejo, poderá haver um plano B.

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Casa Chinesa fez 82 anos em Dezembro. Dias antes recebeu uma ordem de despejo, que está a contestar Nelson Garrido

A Câmara do Porto garante estar empenhada em impedir que a Casa Chinesa, que em breve deverá receber protecção municipal do projecto Porto de Tradição, feche portas. Caso esse selo de loja histórica não chegue para travar o despejo da loja da Rua Sá da Bandeira, a autarquia estará disponível para ajudar a Casa Chinesa a continuar a sua história com já 82 anos. “Se houvesse alguma vicissitude, temos recurso ainda a lojas exteriores do Mercado do Bolhão”, apontou Rui Moreira durante o debate na reunião privada do executivo desta segunda-feira, salvaguardando que “seria melhor que [a Casa Chinesa] ficasse onde está”.

A questão foi levantada pelo vereador Tiago Barbosa Ribeiro, do PS, que já em Novembro passado havia questionado Rui Moreira sobre o risco de encerramento da loja aberta desde 1939. O socialista não teve resposta, mas o assunto voltou à ordem do dia, na semana passada, com a notícia do PÚBLICO. A Casa Chinesa, que fez 82 anos a 18 de Dezembro, recebeu uma ordem de despejo depois de ter recusado uma subida da renda para 3000 euros (“um aumento de mais de 100%”, segundo o gestor Mário Carvalho). Neste momento, está a contestá-la em tribunal.

A mercearia da Rua Sá da Bandeira está neste momento num “processo normal de classificação”, apontou o vereador Ricardo Valente, garantindo que a autarquia tem dialogado com os gestores da loja. Ainda durante esta semana ou na próxima, a comissão de acompanhamento do Porto de Tradição vai analisar a proposta de classificação deste estabelecimento. “A proposta técnica é de classificação”, adiantou Ricardo Valente.

O pedido de reconhecimento como loja histórica foi entregue à Câmara do Porto em Novembro de 2020, mas a pandemia terá atrasado a avaliação, justificou o vereador, acrescentando ainda que também as eleições autárquicas obrigaram a um interregno na avaliação de candidaturas. Este adiamento não deverá, ainda assim, ser um problema, garantiu: caso a Casa Chinesa seja reconhecida como loja histórica, esse selo é válido a partir do momento da candidatura, que é muito anterior à acção de despejo, entregue em finais de 2021.

O problema poderá ainda assim existir, porque o tribunal se pode sobrepor às “convicções” da autarquia, recordou o próprio presidente da autarquia, pondo em cima da mesa, nesse cenário, a hipótese de a mercearia se mudar para uma loja do exterior do Bolhão, a poucos metros da actual. Ricardo Valente defendeu que “a loja de tradição não tem de estar necessariamente no sítio onde está originalmente”, abrindo também portas a uma eventual mudança de geografia desta loja, caso o despejo se concretize. “Estamos aqui a defender estabelecimentos comerciais, não estamos a defender localizações comerciais.”

Foi assim, de resto, com a Poetria, exemplificou, referindo-se ao apoio da autarquia que cedeu temporariamente à livraria, a única especializada em poesia e teatro do país, um espaço muito próximo das instalações actuais, nas Galerias Lumière, que vão ser transformadas num hotel.

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