O regresso à escola e o bem-estar dos alunos
Não se trata apenas de recuperar aprendizagens. O bem-estar psicológico tem de estar no centro das preocupações das escolas e das políticas.
Com mais ou menos percalços, professores e funcionários estão a ser vacinados com a terceira dose da vacina contra a covid-19, está prevista uma campanha de testagem, as regras do isolamento foram alteradas e deverão evitar que um só caso positivo possa levar turmas inteiras ao isolamento. As aulas presenciais regressam assim nesta segunda-feira, acompanhadas de mais uma boa notícia: o Ministério da Educação encomendou a uma equipa de investigadores um estudo que deverá avaliar o bem-estar psicológico de alunos e docentes.
Arranca ainda este mês e deverá identificar estratégias para mitigar os problemas que forem detectados nas diferentes regiões do país. O que se espera é que as medidas que venham a ser propostas sejam levadas a sério. Porque o problema é sério.
Em Outubro, a Unicef divulgou o seu relatório A Situação Mundial da Infância, onde explicava que o impacto da pandemia na saúde mental das crianças e jovens não só foi tremendo como será duradouro, o que não se compadece com a falta de investimento público e com a desatenção dos governos. Alguns números aí citados podem ser encontrados numa meta-análise de 29 estudos que abrangeram 80.879 jovens em todo o mundo: a prevalência de sintomas de depressão e ansiedade durante a pandemia duplicou em comparação com as estimativas pré-pandémicas; um em cada quatro apresenta sintomas de depressão elevados e um em cada cinco de ansiedade. Num grande inquérito feito no Reino Unido, divulgado em Setembro, as raparigas e os jovens de famílias mais desfavorecidas foram os que reportaram maior insatisfação com o estado da sua saúde mental.
O estudo português mostrará o que se passa nas nossas escolas. E os professores serão também convidados a participar porque, como explica a coordenadora da equipa nesta edição, “se os professores estão muito afectados, como achamos que estão, também têm de ser ajudados para ajudar os miúdos”. Os primeiros resultados sairão até Março.
Os meios não abundam. Uma recente carta da Ordem dos Psicólogos ao Presidente da República sublinhava o reforço de psicólogos nas escolas do ensino não superior, que têm agora mais de 1700 destes profissionais, mas acrescentava que no ensino superior existirão pouco mais de uma centena, sendo “quase impossível aceder a apoio” nos centros de saúde.
Serão assim precisos recursos, empenho, imaginação. Não se trata apenas de recuperar aprendizagens perdidas nestes dois anos. O bem-estar psicológico dos alunos tem de estar no centro da preocupação das escolas e das políticas sociais.