O Natal é o momento de dar um pouco de nós ao outro

Para muitas pessoas (adultos e crianças), faz mais falta um abraço carinhoso e um pouco de atenção do que um perfume, um brinquedo ou um creme das mãos.

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"O Natal é um momento que para algumas pessoas desperta emoções diversas e às vezes contraditórias" @petercalheiros

Além do carácter religioso que faz com que muitas pessoas efectivamente celebrem o Natal imbuídos de fé, a maior parte aproveita esta quadra para se reencontrar com a família e com os amigos à volta de uma mesa farta com comida, vinho e gargalhadas. Contudo, dado que nem todos temos as mesmas vivências, há quem não partilhe do espírito natalício envolto em proximidade e solidariedade.

Na verdade, o Natal é um momento que para algumas pessoas desperta emoções diversas e às vezes contraditórias, como alegria, angústia, tristeza e saudade, sendo exemplos quem não é aceite pela sua família dada a sua orientação sexual; quem teve desavenças com algum familiar ou quem sofreu alguma mudança negativa na sua vida. Estas pessoas podem ver o Natal como uma fonte de stress, de gastos excessivos, cansaço, mal-estar, reencontro com quem preferia não estar e obrigação de oferecer uma prenda a quem não tem vontade.

Há ainda aquelas pessoas para quem o Natal perdeu o seu encanto desde que a covid-19 levou um ente querido. Se, por um lado, estamos todos cansados das obrigações inerentes à pandemia, quem sofreu com o impacto directo do vírus na família, quer tenha sido por doença grave, quer pela morte de alguém, naturalmente não vai sentir o Natal da mesma forma.

E o que é que estas pessoas têm em comum? O sofrimento, que em alguns casos acaba por ser em silêncio. Para estas pessoas que vivem esta quadra sem dela retirarem prazer, é fácil surgir tristeza, dificuldades de sono, falta de apetite, desânimo, consumo de álcool em excesso ou outros problemas emocionais que se podem perpetuar.

Naturalmente que a ideia não é que todos estejam tristes na noite de Natal porque há quem não esteja bem. Porém, sendo o Natal um símbolo de amor, de tolerância e de solidariedade, porque não criar um momento de aproximação verdadeira, nem que seja através de um telefonema a quem está sozinho ou evitando aquela crítica fácil a quem tem uma opinião ou uma forma de vida diferente da maioria? Para muitas pessoas (adultos e crianças), faz mais falta um abraço carinhoso e um pouco de atenção do que um perfume, um brinquedo ou um creme das mãos.

Ouvir, compreender e validar os seus sentimentos por um instante pode ajudá-las a viver um Natal mais confortável.

Muitas vezes estamos sentados à mesa ao lado de alguém que se encontra numa situação difícil, mas nem percebemos, ou fingimos não perceber, para não estragar o nosso momento, ou, simplesmente, porque não nos interessa ouvir uma narrativa menos festiva. Mas será que o Natal não é exactamente o momento de dar um pouco de nós ao outro?

Que o Natal não esteja na abundância dos presentes, mas no verdadeiro sentimento de pertença para quem é injustamente posto de lado, de aceitação da diferença para quem é recriminado e de verdadeiro reencontro com a família e com os amigos.

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