Ghislaine Maxwell retratada como bode expiatório mas também como predadora

Maxwell pode ser condenada a uma pena de até 80 anos de prisão. “As acusações contra Ghislaine Maxwell são por coisas que Jeffrey Epstein fez, mas ela não é Jeffrey Epstein”, disse, por seu lado, a advogada de Maxwell, Bobbi Sternheim, no tribunal federal de Manhattan.

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Reuters/JANE ROSENBERG

O julgamento criminal de Ghislaine Maxwell começou nesta segunda-feira, com um dos advogados da acusação a dizer que a socialite britânica atraiu raparigas menores para o empresário Jeffrey Epstein com o fim de serem abusadas sexual, enquanto um advogado de defesa pediu aos jurados que não transformem Maxwell num bode expiatório. “Ela atacou meninas vulneráveis, manipulou-as e serviu-as para serem abusadas sexualmente”, acusou Lara Pomerantz, promotora distrital assistente na sua declaração de abertura.

Maxwell, 59 anos, está a ser julgada por recrutar e preparar quatro menores de idade para que Epstein abusasse delas, entre 1994 e 2004. Epstein morreu na prisão em 2019 enquanto aguardava julgamento por acusações de abuso sexual. A socialite declarou-se inocente de oito acusações de tráfico sexual e outros crimes, incluindo duas acusações de perjúrio que serão julgadas em data posterior. Maxwell pode ser condenada a uma pena de até 80 anos de prisão. “As acusações contra Ghislaine Maxwell são por coisas que Jeffrey Epstein fez, mas ela não é Jeffrey Epstein”, disse, por seu lado, a advogada de Maxwell, Bobbi Sternheim, no tribunal federal de Manhattan.

O julgamento surge na esteira do movimento #MeToo, que encorajou vítimas de abuso sexual a manifestarem-se contra homens poderosos como o produtor de cinema Harvey Weinstein e o cantor de R&B R. Kelly acusado de má conduta. O caso de Maxwell se destaca em parte por ela ser mulher. Ghislaine Maxwell esteve presente durante esta primeira sessão, manteve-se sentada na sala do tribunal, com uma máscara branca cobrindo o rosto, e vestindo uma camisola creme e calças pretas.

A acusação diz que Maxwell, uma ex-funcionária e parceira romântica de Epstein, enviou presentes como lingerie e discutiu temas sexuais com as raparigas para ganhar a sua confiança antes de encorajá-las a fazer massagens eróticas a Epstein. Ela às vezes estava presente e às vezes participava, diz. Pomerantz começou por descrever como Maxwell e Epstein conheceram uma rapariga de 14 anos chamada Jane — um nome falso — num acampamento de artes de Verão, em 1994. Epstein apresentou-se como um doador interessado em oferecer bolsas de estudo a jovens talentosos e pediu o número de telefone de Jane, descreve a advogada. “Nesse primeiro ano, quando Jane tinha apenas 14 anos, Epstein começou a abusar sexualmente dela. Ele não abusou dela sozinho”, acusa. “Jane não foi a única vítima. Havia outras meninas.”

A primeira testemunha da acusação, Lawrence Paul Visoski Jr, piloto de Epstein, testemunhou que Ghislaine Maxwell às vezes o informava sobre os planos de viagem de Epstein. Visoski descreveu Maxwell como “uma das assistentes do escritório do Sr. Epstein”. Durante o julgamento, quatro pessoas deverão testemunhar contra Maxwell. Este deve prolongar-se até o início de Janeiro. A acusação informou que entre as testemunhas estão familiares das vítimas e ex-funcionários de Epstein.

Por seu lado, a advogada da socialite, Bobbi ​Sternheim disse que a acusação, incapazes de condenar Epstein, estão a usar a filha do falecido magnata da comunicação social Robert Maxwell como bode expiatório. E que está a pedir aos jurados que atribuirem um motivo “sinistro” a actividades legais, como levar adolescentes às compras. Acrescentando ainda que a acusação manipulou as memórias das mulheres que acusam Maxwell.

Um fundo de compensação criado após a morte de Epstein tem pago as reivindicações das alegadas vítimas do multimilionário. Bobbi Sternheim denuncia que estas têm vindo a receber pagamentos e que isso as força a cooperar com o gabinete do procurador do Estado, que é o responsável pela acusação. “Este caso é sobre memória, manipulação e dinheiro”, resumiu a advogada de defesa. “As memórias desaparecem com o tempo e, neste caso, saberão que não só as memórias se apagaram, mas foram contaminadas por informações externas”, disse, dirigindo-se ao júri.