No aniversário do Encontro de Leituras, a convidada é a Prémio Camões 2021: Paulina Chiziane

A escritora moçambicana conversará esta terça-feira, às 22h em Lisboa, 19h em Brasília e meia-noite em Maputo, sobre o romance Niketche – Uma história de poligamia na sessão Zoom com a ID 912 9667 0245 e a senha de acesso 547272.

Foto
Paulina Chiziane, Prémio Camões 2021 LUSA/ANTÓNIO SILVA

Paulina Chiziane, Prémio Camões 2021, é a convidada do próximo Encontro de Leituras. O clube de leitura mensal do PÚBLICO e do jornal brasileiro Folha de S. Paulo, que junta leitores de língua portuguesa, comemora em Dezembro o seu primeiro aniversário. Há um ano, o primeiro convidado foi o escritor angolano Ondjaki.

O livro em discussão na próxima sessão será Niketche – Uma história de poligamia, romance publicado em Portugal pela Editorial Caminho em 2002 e agora reeditado (no Brasil, saiu pela Companhia das Letras). O Encontro de Leituras acontecerá na terça-feira, dia 14 de Dezembro, às 22h de Lisboa, 19h de Brasília e meia-noite de Maputo. A sessão Zoom tem a ID 912 9667 0245 e a senha de acesso 547272. Também é possível aceder a partir deste link.

“Eu, Rami, mulher bela. Eu, mulher inteligente. Fui amada. Disputada por vários jovens do meu tempo. Causei paixões incendiárias. De todos os que me pretenderam escolhi o Tony, o pior de todos, que na altura julgava ser o melhor. Vivi apenas dois anos de felicidade completa num total de vinte e tantos de casamento”, lê-se numa das primeiras páginas de Niketche – Uma história de poligamia (Niketche é uma dança que, em certas partes de Moçambique, é executada por raparigas recém-iniciadas).

Em 2003, nas páginas do PÚBLICO, o crítico literário António Tomás escrevia que neste terceiro romance de Paulina Chiziane “se divisa uma das críticas mais inteligentes que se fizeram até hoje à instituição da poligamia, vindo de uma mulher africana”. A personagem Rami “quer revelar os podres do sistema, mostrar como a poligamia dos dias de hoje é uma imitação oportunista a verdadeira instituição”. E para o crítico o “grande mérito de Paulina Chiziane” em Niketche é conseguir de forma feliz enquadrar a tradição no corpus narrativo, elevando o romance além da reportagem da National Geographic” e do relato etnográfico – o nível que na maior parte das vezes se alcança quando se escreve sobre temas como a poligamia. Porque Paulina problematiza, mas não explica”, escrevia António Tomás. “Nota-se-lhe um trabalho árduo, um cuidado notável na construção da trama romanesca, uma organização rigorosa, conseguindo entretanto manter o seu registo muito próximo da sinceridade.”

Em conversa com a jornalista Isabel Lucas no podcast Cruzamentos Literários, Paulina Chiziane chamou a Niketche “o livro maluco, porque diz realidades que ninguém ousou dizer”. Ali questiona, sem abdicar do humor, “o papel do poder entre o feminino e o masculino, a relação com o corpo, numa linguagem crua que toca o interdito, a fala acerca do sexo, o desejo feminino. É uma ruptura com tabus feita com a liberdade literária com que Chiziane irrompeu no mundo literário e que tem por base um português onde entram expressões, falas de outras línguas que se habituou a ouvir desde criança, as suas línguas, e que estão na génese da sua criação”, escreveu Isabel Lucas aquando da atribuição do Prémio Camões à escritora moçambicana.

Paulina Chiziane, que nasceu em Manjacaze e vive em Maotas, nos arredores de Maputo, é uma pioneira. Em 1990, com Balada de Amor ao Vento, tornou-se a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique. Este ano, tornou-se a primeira mulher africana a receber o Prémio Camões. “Ela é apresentada muitas vezes como a primeira mulher romancista de Moçambique, mas não é só isso que está em causa. Ela dá voz à mulher, numa obra em que a mulher está ao centro e em que aparecem problemas muito actuais relacionados com a realidade moçambicana e africana”, justificou ao PÚBLICO no dia da atribuição do prémio o presidente do júri do Camões, Carlos Mendes de Sousa, da Universidade do Minho.

O clube de leitura do PÚBLICO e do jornal brasileiro Folha de S. Paulo discute romances, ensaios, memórias, literatura de viagem e obras de jornalismo literário, na presença de um escritor, editor ou especialista convidado. É moderado pela jornalista Isabel Coutinho, responsável pelo site do PÚBLICO dedicado aos livros, o Leituras, e pelo jornalista da Folha de S. Paulo Eduardo Sombini, apresentador do Ilustríssima Conversa, podcast de livros de não-ficção.

Sugerir correcção
Comentar