Exposição
Fugiram de Cabo Delgado, mas encontraram o caminho de volta à escola. Agora contam como
Horácio tem 22 anos e não é por causa de más notas que ainda está retido no 11.º ano. “Quando terminou a primária, tudo o que os pais conseguiram dar-lhe foram quatro anos de trabalho na machamba [terreno de cultivo]. Juntou dinheiro para ir para a 8.ª classe. No final desse ano, Horácio voltou a tropeçar na falta de fundos. E foram mais três anos de estudos parados e braços a erguerem a enxada. Conseguiu uma bolsa de estudo da Helpo para voltar para Mocímboa e para a escola. Estava na 9.ª classe em 2019, quando as movimentações armadas se cruzaram com ele.”
O relato, tal como aconteceu, foi contado a Maria João Venâncio e Luís Godinho, que refizeram os passos de 20 crianças e jovens forçados a fugir das aldeias do Norte de Moçambique, à procura de um porto de abrigo da violência jihadista em Cabo Delgado. Alguns deles encontraram mais do que um sítio para respirar. Com a ajuda da organização não-governamental Helpo, chegaram a uma nova escola — e a um novo caminho.
“A escola tem uma importância gigante. Além de os miúdos gostarem de ir, os pais percebem a importância dos filhos conseguirem mais educação do que eles conseguiram ter acesso”, conta ao P3 Maria João Venâncio, convidada para redigir os testemunhos pela agência criativa que trabalha com a Helpo. “Foi com muita generosidade que partilharam as suas histórias, e muitos deles não me parece que a tenham partilhado antes. Apesar de terem todos fugido da mesma coisa, têm histórias muito diferentes para contar. É personalizando que se volta a devolver a humanidade a estes números [de milhares de deslocados].”
Os 20 relatos, entre os de 800 mil deslocados deste conflito, são a lição da Escola do Caminho Longo e vão estar em exposição no Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, até 16 de Janeiro, e no Centro Cultural Português, em Maputo. A ideia é percorrer mais destinos durante o próximo ano.