Lukashenko admite que terá ajudado migrantes a entrar na UE

Presidente bielorrusso diz que é “absolutamente possível” que as suas tropas tenham facilitado a passagem dos migrantes através da fronteira com a Polónia.

Foto
Alexander Lukashenko disse que não vai deter migrantes na fronteira EPA

O Presidente da Bielorrússia admitiu esta sexta-feira que as suas tropas podem ter ajudado migrantes a passar a fronteira para a Polónia. “É absolutamente possível”, afirmou Alexander Lukashenko numa entrevista à BBC no palácio presidencial em Minsk. 

“Talvez alguém os tenha ajudado, mas nem vou olhar para isso”, disse o líder bielorrusso, negando ser responsável pela crise migratória. Reconheceu, no entanto, que permitiu deixar passar os requerentes de asilo pela Bielorrússia para chegarem às fronteiras da União Europeia.

A UE acusa Minsk de ter atraído estas pessoas, sobretudo oriundas de países do Médio Oriente, para a Bielorrússia e de as ter transportado para a fronteira com a Polónia para provocar uma crise migratória e vingar-se das sanções ocidentais impostas ao regime de Lukashenko, após as eleições fraudulentas que o reconduziram no poder, a repressão violenta de protestos populares contra o resultado do escrutínio, detenções arbitrárias de opositores e o desvio de um avião comercial para deter um jornalista bielorrusso independente.

“Eu disse-lhes [à UE] que não vou deter migrantes na fronteira, ou mantê-los na fronteira, e se daqui em diante eles continuarem a chegar, não vou impedi-los. Eles não estão a vir para o meu país, estão a ir para os vossos”, afirmou Lukashenko.

Nesta sexta-feira, a Polónia acusou a Bielorrússia de estar a levar de autocarro centenas de migrantes de volta à fronteira e de os incentivar a tentarem passar para a Polónia, horas depois de terem retirado as pessoas que estavam acampadas na floresta perto da fronteira.

No dia anterior, uma porta-voz do Presidente bielorrusso disse que foi feita uma proposta à União Europeia para que acolhesse 2000 migrantes, com a Bielorrússia a prometer que enviaria os restantes 5000 de volta para os seus países de origem. Um avião iraquiano transportando 431 migrantes que estavam retidos na fronteira da Bielorrússia com a Polónia partiu na quinta-feira de Minsk e aterrou no aeroporto de Erbil, no Curdistão iraquiano, região de onde muitos deles são originários.

A União Europeia tem dito, no entanto, que não negociará com o regime de Lukashenko, que acusa de estar a fazer uma “guerra híbrida” contra o bloco usando os migrantes, embora a chanceler alemã, Angela Merkel, tenha falado esta semana duas vezes com o líder bielorrusso.

Na entrevista à BBC, Lukashenko admitiu também que os seus serviços de segurança espancaram severamente os manifestantes que foram presos por protestar contra o resultado das eleições do ano passado. “Eu admito, eu admito. Foram pessoas espancadas no centro de detenção de Okrestina. Mas também houve polícias espancados e vocês não mostraram isso”, disse o Presidente bielorrusso.

Sugerir correcção
Ler 15 comentários