Lisboa

Bairro Meu: crianças fotografam gentes e histórias do “desafiante” bairro onde vivem

Crianças retratam "um dos mais desafiantes bairros de Lisboa": o seu. Bairro Meu, patente na Biblioteca de Campo de Ourique, expõe fotografias realizadas por crianças e jovens moradores do bairro da Quinta do Loureiro, com a orientação do fotógrafo Daniel Rodrigues.

Bia
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Em Junho e Julho de 2021, 14 crianças e jovens moradores do Bairro Quinta do Loureiro, em Lisboa, viveram dias diferentes. De câmara fotográfica em riste, coordenados pelo fotógrafo Daniel Rodrigues, Bia, Daniela Oliveira, Enzo, Eva, Daniela Garcia, Maria, Rodrigo e Tiago – de idades compreendidas entre os oito e os 13 anos – "mergulharam" nas entranhas do seu próprio bairro, considerado "um dos mais desafiantes da cidade" pela organização da iniciativa, e levaram a luz, sob forma de fotografias, às histórias das pessoas que nele habitam. 

Com o objectivo de promover a inclusão, o sentido de comunidade e pertença dos habitantes do bairro, a organização sem fins lucrativos It's About Impact proporcionou aos jovens moradores do Bairro da Quinta do Loureiro mais de 40 horas de formação na área da fotografia. Para Daniel Rodrigues, fotógrafo que venceu, em 2013, o prémio World Press Photo, a experiência como formador foi diferente de tudo o que já havia feito até então. "Nunca tinha ensinado, não é a minha área", explicou ao P3, em entrevista. Garante, porém, que a experiência foi um catalisador de mudança para si e para as crianças e jovens que participaram no projecto. "Inicialmente, os jovens revelaram pouco interesse", conta. "Havia muita gente a faltar. Mas depois perceberam que podiam usar sozinhos a sua própria câmara fotográfica e que podiam andar toda a tarde a fotografar o bairro."

Passo a passo, sessão a sessão, mais crianças e jovens foram aderindo à iniciativa e "geraram-se novas dinâmicas dentro do bairro". "Devido à pandemia, havia pouca interacção entre as pessoas e isso mudou um pouco graças à intervenção dos jovens", descreve Daniel Rodrigues. "Só por isso, já valeu a pena." Mas as mais-valias, acrescenta, foram muito para além dessa em particular. "Um dos maiores desafios, para eles, foi o de perder o medo e a vergonha de abordar as pessoas no bairro para serem fotografadas. Foram, com o tempo, ganhando confiança e percebendo que a Fotografia é um bom pretexto para falar com as pessoas." Os jovens ganharam confiança e fotografaram os edifícios, o interior das casas, dos cafés, retrataram os habitantes. 

Nem sempre foi fácil motivá-los, confessa o fotógrafo. "Todas as semanas apresentava exercícios relacionados com técnica ou composição fotográfica, mas, passada meia hora, muitos perdiam o interesse." Daniel cativou-os com as impressões das fotos que realizavam e com a fotografia Polaroid. "Ficavam loucos com a impressão instantânea das Instax que levei." João era um dos formandos menos interessados, inicialmente. "A meio do percurso mudou de atitude e tornou-se no aluno mais interessado. Actualmente, o sonho dele é ser fotógrafo." Mesmo meses após a experiência, João continua a enviar fotografias que tira no bairro ao formador. "Envia e pergunta se está bom", refere Daniel, com satisfação. "Haver um aluno que quer seguir fotografia depois disto é muito bom, é uma vitória." 

Daniel Rodrigues, que apresenta as suas fotografias do bairro juntamente com as dos jovens fotógrafos, considera que o resultado final do trabalho, Bairro Meu, presentemente em exposição na Biblioteca do Campo de Ourique, em Lisboa, é muito positivo. "Nesta formação, eles não aprenderam apenas a fotografar. Aprenderam a olhar a realidade, a aceitar desafios, a ultrapassar medos e a superar as suas próprias expectativas."

Bia
Eva
©Daniel Rodrigues
©Daniel Rodrigues
©Daniel Rodrigues
João
©Daniel Rodrigues
Daniela Garcia
©Daniel Rodrigues
©Daniel Rodrigues
Daniela Oliveira
João
Kiko
Rodrigo
Maria
Enzo
João
Tiago
Rodrigo
©Daniel Rodrigues