Cecília Meireles deixa Parlamento para começar uma nova vida, mas mantém-se no CDS
Deputada associa a sua saída da AR e o abandono de cargos partidários às “coisas graves” que o líder do partido diz sobre um grupo de militantes no qual se inclui, e que acusa de fazer “terrorismo político”.
A ex-vice-presidente do CDS-PP, Cecília Meireles, vai abandonar o Parlamento no final da actual legislatura, que termina dentro de três semanas. Foi a própria deputada centrista que anunciou estar de saída esta sexta-feira no seu espaço de opinião Não Alinhados, na TSF.
Cecília Meireles, que liderou a lista de deputados pelo círculo eleitoral do Porto nas últimas legislativas, fala num “virar de página”, mas vai manter-se no partido no qual milita há 25 anos, apesar de achar que “o CDS não está a cumprir o papel que sempre teve na vida do país”.
“Cheguei à conclusão de que a decisão mais serena e mais leal – a única decisão que me parece possível – é que cumprindo o mandato até ao fim, fazendo estas três semanas, com a dissolução do Parlamento, eu porei um ponto final na minha vida parlamentar e em cargos partidários, ou seja, deixo o Parlamento e planeio virar uma página e começar uma vida nova”, explicou a deputada na TSF.
Cecília Meireles, que é um dos rostos mais conhecidos do partido, considera que não lhe restava outra alternativa depois de ouvir o líder do partido, no último conselho nacional, dizer coisas que considera graves. “Gostava de deixar claro que se passaram algumas coisas que, para além daquelas que já foram noticiadas, são graves, no último conselho nacional. Logo na abertura, o presidente do meu partido, na sua intervenção inicial, dirigiu-se a um grupo de pessoas das quais também faço parte dizendo que fazíamos terrorismo político e que passávamos a nossa vida a defender uma coisa e a fazer outra e que toda esta confusão era por lugares de deputados”, conta a parlamentar na TSF.
A deputada faz questão de dizer que não podia deixar passar em branco este tipo de acusações. “Lamento dizer o que se passou publicamente, mas tenho a obrigação de explicar isto assim para que as pessoas entendam porque é que se tornou impossível para mim, a partir daquele momento, exercer cargos em nome do CDS”.
Fonte centrista recordou, em declarações ao PÚBLICO, que no dia seguinte a ter sido eleito presidente do partido, no congresso do CDS, em Janeiro de 2020, em Aveiro, Francisco Rodrigues dos Santos fez várias tentativas no sentido de pressionar Cecília Meireles a deixar o cargo de deputada. A mesma fonte lembra que foi o agrément de Cecília Meireles, na altura vice-presidente da direcção de Assunção Cristas, que Francisco Rodrigues dos Santos, líder da Juventude Popular, entrou como número dois na lista de deputados pelo Porto.
O anúncio da saída do Parlamento da deputada acontece uma semana depois de Adolfo Mesquita Nunes ter abandonado o CDS “sem uma gota de arrependimento” pelo percurso que fez no partido durante 25 anos. Entretanto, desfiliou-se António Pires de Lima e o deputado João Almeida abandonou a bancada parlamentar do partido.
Na hora de virar a página, Cecília Meireles agradece a Nuno Melo ter criado alguma “esperança de construir” e justifica que “é em nome dessa esperança que fica no CDS”.
Nuno Melo, que é candidato à liderança centrista, já garantiu que se vai manter no partido. “Não abandono [o CDS]”, proclamou, garantindo não desistir ante a “tortura democrática” feita pela actual direcção e por Anacoreta Correia. Pelo contrário, Nuno Melo diz que ficar ainda “mais firme” na “determinação de mudar os destinos do CDS”.