Arquitectura

Em Leiria, há crianças a estudar numa Casa da Árvore — que também “continua a crescer”

Os arquitectos do gabinete Contaminar projectaram uma escola em conexão com a natureza — e sempre em sintonia com as crianças que a frequentam. O imaginário tornou-se realidade em Leiria.

Fernando Guerra | FG+SG
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Fernando Guerra | FG+SG

O Jardim do Fraldinhas, uma escola do 1.º ciclo do ensino básico na freguesia de Marrazes, município de Leiria, beneficiou de uma remodelação levada a cabo pelo atelier Contaminar. Joel Esperança, um dos arquitectos envolvidos, revela ao P3 que “o projecto partiu do imaginário da casa na árvore” — que acabou por lhe dar o nome.

Esta Casa da Árvore, concluída em 2020, quis não só aproveitar o contexto geográfico do edifício — entre uma zona residencial e outra florestal —, como explorar o conceito e a metodologia da própria escola. “O objectivo era fazer com que as crianças estivessem em permanente contacto com a natureza.”

Por existir, precisamente, “uma relação muito forte com a natureza”, sublinha Esperança, o espaço interior surge como um prolongamento do exterior, como se vê nas fotografias de Fernando Guerra. O jardim, o ex-libris do espaço, muito facilmente se transforma numa extensão das salas. As aulas podem, a qualquer momento, ser dadas no exterior, caso o tempo o permita. O próprio mobiliário é adaptado, “não é o normalizado”, revela o arquitecto, tal como a sala de aulas. “As crianças podem rapidamente levar as suas cadeiras do interior para o exterior para continuar a aula ao ar livre.”

“Estas crianças têm um sentido muito crítico, muito mais apurado do que o normal. Reúnem-se em colóquio e propõem sugestões à administração sobre aquilo que consideram que não está bem no projecto de arquitectura”, refere Joel Esperança. “É desafiante (…) Já chegámos a reajustar o projecto com base nas propostas das crianças”, admite. Exemplo disso foi o facto de o tamanho das janelas ter sido aumentado para que as crianças pudessem ver o jardim. Todo o projecto foi pensado para elas, “à escala delas”.

E também os materiais usados na concepção do projecto foram adaptados ao conceito de casa da árvore. Materiais “nus e crus”, como madeiras recicladas, cortiças e betão, foram as opções escolhidas — como já tinham sido noutros projectos do atelier. Mas, como não podia deixar de ser, os materiais também tiveram em consideração a sensibilidade dos destinatários do espaço. O betão das paredes, geralmente frio, foi lixado para que crianças sentissem as paredes macias e vissem os veios do material, quase como uma alusão às raízes das árvores.

Como qualquer árvore, também esta “continua a crescer”. Continuando a explorar o conceito da casa na árvore, a escola vai ser aumentada. “À medida que vão crescendo, as crianças podem ir à parte de cima da sala” — tal como fazem em qualquer outra casa na árvore.

Texto editado por Ana Maria Henriques

Fernando Guerra | FG+SG
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