Um cão que escolheu os donos
Nick apareceu na vida de um grupo de crianças e encontrou ali uma família. De onde terá vindo este cão de olhos dourados?
Era Agosto, um mês que se associa a férias, mas também a abandono de animais. Foi isso que todos pensaram quando Nick, assim o baptizaram as crianças, apareceu na rua onde moravam e brincavam. “Vimos logo que se tratava de um cão pacífico, mansinho. Só lhe faltava falar. E que belo animal! O pêlo cheio de brilho, de um tom castanho misturado com a cor do mel, o narizito rosado no meio do focinho malhado de branco, a lembrar um ovo estrelado. E os olhos?! Ah, se vissem os olhos do Nick! De ouro puro. Redondos e brilhantes como as estrelas. Pareciam vidros coloridos.”
O Cão dos Olhos Dourados é o primeiro livro para crianças do escritor João de Melo, mantendo aqui o seu estilo poético e claro. Por isso, Célia Fernandes, a ilustradora, não teve qualquer dificuldade em desenhar a partir das palavras do autor. “Acho a escrita do João delicada e encantadora, há uma frescura luminosa nas palavras que faz com que as imagens surjam muito rapidamente, aliás é aquele livro que quase nem precisava de ilustrações, mas ainda bem que alguém achou que sim e eu as pude fazer!”, disse ao PÚBLICO.
João de Melo nasceu nos Açores, em 1949, tem 30 livros publicados (ensaio, antologia, poesia, romance e conto) e já recebeu vários prémios. O mais recente foi atribuído esta semana, o Prémio Literário Urbano Tavares Rodrigues, pelo título Livro de Vozes e Sombras, também editado pela D. Quixote. A mesma obra venceu ainda o Grande Prémio de Literatura dst.
Neste breve conto para os mais novos, passado em Lisboa e narrado por um adulto, o escritor cria uma história terna e de desfecho inesperado, com uma linguagem cuidada, mas de fácil compreensão.
Ilustração como apoio à aprendizagem
Célia Fernandes, designer de formação, é ilustradora freelancer há cerca de 20 anos e concentra actualmente a sua actividade sobretudo em livros para o 1.º ciclo e o ensino pré-escolar. “Fazer da ilustração um apoio à aprendizagem é uma das coisas que mais me encantam no meu trabalho”, diz. Durante algum tempo criou para a indústria cerâmica. “Continuo a ser ainda hoje apaixonada por tarecos de barro e tenho o pequeno sonho de voltar a pôr as mãos no barro”, confessa. E acrescenta: “Gosto de me embevecer com detalhes, de fotografar a rotina, de desenhar para crianças. De passear o meu cão!”
Aproveitou para homenagear neste livro o seu “querido cachorro, o Trigo, adoptado há uma dezena de anos a um abrigo em Loures (é o pintas no fundo da cena)”. Diz adorar cães, pelo que “foi uma graça poder ilustrar um livro que fala deles”.
Sobre a técnica, descreve: “Esboço a lápis, Adobe Illustrator e Adobe Photoshop. Há sempre o desenho analógico, feito à mão, depois passado para o computador e finalizado com as ferramentas que estes programas oferecem, uma caixa de lápis digital com imensas possibilidades!”
Sobre o processo de decisão, revela: “Demorei apenas algum tempo para decidir que queria fazer um ouro sobre azul, já que o João escreve sobre um cão dourado e luminoso em vários aspectos. E nesta história reduzi a paleta, habitualmente muito colorida, destacando os azuis e os amarelos quentes, e um fundo neutro que a destaca.” Apropriado para uma história também ela luminosa.