Nasceu uma associação no Príncipe Real para dar “uma voz” ao bairro

Investidores, comerciantes e moradores juntos numa plataforma que visa “proteger” o Príncipe Real e, quem sabe, assumir algumas responsabilidades no futuro. “Todas as pessoas com quem falo me dizem: ‘Há muito tempo que devia haver uma coisa assim, estou cheio de ideias’”, diz uma responsável.

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Tiago Eiró não tenciona ficar mais do que dois anos na presidência da associação: "Ela será o que as pessoas quiserem" Nuno Ferreira Santos

Quando Tiago Eiró se senta à mesa para a conversa, um grupo musical está a preparar a sua actuação junto a uma das árvores mais frondosas do jardim. É um dia de semana a meio da tarde e o Príncipe Real está cheio de gente. O presidente da recém-criada associação local olha em volta e resume: “Esta associação surge porque é nossa responsabilidade proteger isto.”

“Isto” é aquilo a que Eiró, também presidente executivo da imobiliária EastBanc, que investe neste bairro lisboeta há 20 anos, considera ser “um equilíbrio muito bom” entre gentes locais e forasteiras, comércio novo e antigo e animação q.b.. “O bairro está muito valorizado porque tanto temos estrangeiros que compram casas caras como moradores velhinhos, como temos feiras aos fins-de-semana, como temos restaurantes portugueses e estrangeiros. E isto não se deve dar por adquirido.”

O homem que dá a cara pela Associação Príncipe + Real, cujo lançamento público decorre este sábado, usa várias vezes o verbo “proteger”. O objectivo “não é fechar o bairro ao exterior”, mas “haver uma voz única perante algum problema que surja ou até antecipar os problemas”, explica Tiago Eiró.

A associação foi criada oficialmente há poucas semanas e junta comerciantes e moradores, investidores imobiliários e equipamentos hoteleiros, juntas de freguesia, equipamentos sociais e associações culturais. Será um território por vezes de consenso, outras de confronto, mas quer sobretudo ser uma cola que una o bairro e lhe dê peso perante a cidade. “É uma nova lógica. Em vez de o dono dizer ‘isto é meu’ e até olhar para os outros proprietários como adversários, é de repente perceber ‘o jardim é nosso’”, exemplifica Patrícia Luz, directora executiva da associação.

Tiago Eiró assume que a inspiração é o que a EastBanc fez em Georgetown, em Washington DC, nos Estados Unidos. Depois de o investidor Anthony Lanier ter comprado edifícios naquele bairro para o reabilitar e dar-lhe uma vida renovada, tal como fez no Príncipe Real anos depois, foi criada uma organização “que zela pelo bairro, organiza algumas coisas, faz iluminações de Natal, gere os lixos, garante a organização de eventos durante o ano, inclusivamente recebe impostos da câmara”, explica o gestor. “Não sei se lá chegaremos, para já o que quisemos fazer foi formalizar um grupo quase de amigos, de pessoas que têm interesse no bairro.”

A Câmara de Lisboa iniciou em 2012 um caminho de descentralização que transferiu para as juntas de freguesia algumas competências em matéria de higiene urbana, regulação do espaço público e manutenção de arvoredo, entre outras. Alguns autarcas têm defendido que o próximo passo será a delegação de uma parte dessas tarefas em organizações da sociedade civil, mas não parece provável que isso venha a acontecer num futuro próximo.

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Tiago Eiró, o homem que dá a cara pela Associação Príncipe + Real Nuno Ferreira Santos

“O nosso objectivo é que possamos ter uma voz perante entidades. Por exemplo, a junta de freguesia quer tratar de qualquer coisa: tem aqui uma plataforma onde podemos estar. Proteger tanto é proteger uma árvore como uma forma de viver, uma forma de estar”, diz Tiago Eiró. E tira a EastBanc da equação: “Nós agora ajudamos a lançar isto, mas o objectivo não é que nós estejamos aqui, isto será o que as pessoas quiserem.”

Patrícia Luz, que passou os últimos meses a calcorrear as ruas entre a Praça da Alegria e a Praça das Flores e a contactar moradores e comerciantes, diz ter encontrado entusiasmo. “Todas as pessoas com quem falo me dizem: ‘Há muito tempo que devia haver uma coisa assim, estou cheio de ideias’”, relata. O que muitas vezes falta, defende, é que se juntem cabeças por um projecto comum.

“Há inquilinos nossos que não se conheciam uns aos outros”, revela Tiago Eiró. “Agora no dia de lançamento da associação pedimos a três restaurantes nossos inquilinos que preparassem qualquer coisa e eles não se conheciam. Estão aqui juntos há dez anos.”

É também por isso que o primeiro acto público da associação é um “fim de tarde de festa” no epicentro do bairro: o jardim. “O lema é ‘todos ao jardim, há festarola no bairro’”, conta Patrícia Luz, que define este como um momento de “festa, empoderamento e reunião”. O evento começa às 17h.

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