O suicídio ainda é um problema de saúde pública

Mesmo que não queiramos pensar sobre isso, o suicídio é indiscutivelmente um problema de saúde pública que precisa de intervenção e de prevenção imediata. E que a sociedade, enquanto um todo, ainda não conseguiu reunir estratégias eficazes para o prevenir. Hoje, 10 de Setembro, assinala-se o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.

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Matthew Ansley/Unsplash

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, estima-se que por ano morram 800 mil pessoas vítimas de suicídio em todo o mundo, sendo esta uma das principais causas de morte entre os jovens até aos 29 anos. Em Portugal, estima-se que por dia morram três pessoas devido a suicídio. Estes números poderiam ser ainda maiores se adicionarmos a taxa de suicídios encobertos, isto é, de pessoas que conseguem provocar suicídio de forma aparentemente acidental.

Agora pedimos-te que pares por momentos, acabaram de passar cerca de 40 segundos desde o início da leitura deste artigo e, segundo a Organização Mundial de Saúde, alguém no mundo morreu por suicídio.

Mesmo que não queiramos pensar sobre isso, o suicídio é indiscutivelmente um problema de saúde pública que precisa de intervenção e de prevenção imediata. E que a sociedade, enquanto um todo, ainda não conseguiu reunir estratégias eficazes para o prevenir.

Mas, afinal, quais as principais causas que levam alguém a querer cometer o suicídio?

Independentemente da causa em si - dificuldades económicas, dependências, relações familiares, divórcios, problemas de saúde mental ou lutos -, há um factor comum que une praticamente todos os suicídios, a sensação de uma dor absolutamente insuportável, acompanhada pela sensação extrema de desamparo, melancolia e solidão.

Assim, quando alguém se suicida, esteve muito provavelmente durante muito tempo a “morrer aos bocadinhos por dentro” e a vivenciar uma sensação de solidão profunda. Mesmo que rodeado de família e de amigos, a sensação é de solidão - não que a família ou os amigos não estejam a dar o melhor de si, simplesmente a pessoa não o sente como suficiente.

Desta forma, a prevenção do suicídio não pode esquecer as relações de proximidade - sejam elas familiares ou profissionais. São as relações que nos ligam à vida e que nos dão alento para, mesmo perante os maiores desafios e obstáculos, termos força para continuar e prosseguir.

É essencial que todos - sem excepção - olhemos para o suicídio com a importância que ele merece, até porque quando alguém se suicida não só morre essa pessoa, mas muitas vezes morre por dentro” toda uma família, amigos e comunidade, entre a sensação de culpa e o luto que é vivenciado de uma forma extremamente dolorosa.

A prevenção do suicídio começa com a promoção da saúde mental e literacia emocional, em contexto escolar, laboral e na comunidade em geral.

Mas como a prevenção do suicídio ainda não é eficaz, todos devemos estar mais alerta a quem está à nossa volta. E se detectamos alguém com ideação suicida - que pensa com frequência em suicídio e o planeia -, devemos lembrar-nos que:

  • É prioritária a intervenção especializada ao nível da saúde mental, com equipas multidisciplinares, sendo essencial apoiar a pessoa e fazê-la chegar a uma estrutura de apoio.
  • Não se deve desvalorizar o sofrimento - é essencial ouvirmos o sofrimento da pessoa e dar-lhe colo. A desvalorização do sofrimento gera a sensação de solidão que desperta a vontade de efectivar o suicídio.
  • Ampliar a rede protectora não formal (amigos, família, entre outros) é imprescindível porque as relações são essenciais perante ideação suicida.

É, regra geral, no momento em que alguém com intenções suicidas encontra em alguém uma certa sensação de compreensão e um colo que o desejo de querer acabar com a sua própria dor e a sua própria vida acalma - não desaparece, mas acalma. Porque uma dor torna-se sempre mais pequena e fácil de ultrapassar se a podemos partilhar com a alguém, se sentimos que há alguém com força suficiente para nos ajudar a suportar essa dor.

Não nos esqueçamos que é urgente investirmos de forma robusta na prevenção do suicídio e, de uma forma unida, darmos a mão a quem sente que a sua dor não é mais suportável e aceitável.

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