A “fotografia cega” de um ex-paratleta, que agora cobre os Jogos Paralímpicos

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João Maia diz não precisar de ver para adivinhar “cada sentimento” e “cada expressão” de um atleta. “O que importa para mim é que, em um dado momento da prova, eu sei o que vou captar do atleta”, escreve o fotógrafo cego.

Ex-carteiro em São Paulo, e antigo atleta de arremesso de peso e lançamento de dardo e disco, mune-se da sensibilidade adquirida durante a prática do desporto para agora fotografar os Jogos Paralímpicos, recorrendo à “audição, tacto, olfacto e baixa visão para construir imagens”. 

O fotógrafo brasileiro de 46 anos perdeu grande parte da visão aos 28, consequência de uma inflamação da úvea, a membrana média do olho, situada entre a esclerótica e a retina. Desde aí, vê “vultos e percebe cores” até uma curta distância, descreve. 

Em 2016, não entrou na selecção dos melhores atletas e cobriu os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro na bancada. Foi fotojornalista do projecto Superação, do movimento mObgraphia, que estimula a fotografia com telemóveis e tabletsComo alguns dos atletas, chega às provas acompanhado por um guia, que também ajuda na edição. 

Está agora em Tóquio, a fotografar principalmente os paratletas brasileiros. Nos jogos marcados pela pandemia, sem público, poderão fazer falta as reacções para guiar os momentos de maior tensão. O barulho que fazem é indescritível, sensacional, para quem é deficiente visual e tem audição apurada, explicava à imprensa brasileira, em 2016.

No projecto Fotografia Cega, ensina técnicas fotográficas para pessoas cegas e com baixa visãoDisponibiliza as fotografias com descrições pormenorizadas acessíveis a todos, nas redes sociais, com a hashtag #PraCegoVer.

João Maia tem, desde 2019, um protótipo de uma câmara profissional da Canon com tecnologias de acessibilidade. Quando vou fotografar uma prova de atletismo de 100 metros de velocidade, por exemplo, posiciono-me na área restrita e peço para a pessoa do meu lado descrever o ambiente. Sei que atleta quero fotografar e peço que me digam em que raia está, para posicionar a câmara, explica, à BBC.

Esta terça-feira, 31 de Agosto, Luís Costa garantiu o sétimo diploma para Portugal nos Jogos Paralímpicos Tóquio 2020​. Miguel Monteiro conseguiu a medalha de bronze na final do lançamento do peso F40. ​

Atleta nos jogos do Rio de Janeiro, em 2016
Atleta nos jogos do Rio de Janeiro, em 2016 João Maia/Fotografia Cega
Jogo nos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016
Jogo nos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016 João Maia/Fotografia Cega
Atletas de judo nos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016
Atletas de judo nos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016 João Maia/Fotografia Cega
Um membro do público fotografa um jogo com o telemóvel, no Rio
Um membro do público fotografa um jogo com o telemóvel, no Rio João Maia/Fotografia Cega
Atleta celebra nos paralímpicos do Rio
Atleta celebra nos paralímpicos do Rio João Maia/Fotografia Cega
Goalball, nos Jogos de Tóquio, 2021
Goalball, nos Jogos de Tóquio, 2021 João Maia/Fotografia Cega
Atletismo 5000 metros t11, nos Jogos de Tóquio, 2021
Atletismo 5000 metros t11, nos Jogos de Tóquio, 2021 João Maia/Fotografia Cega