“Nação livre e soberana”. Taliban festejaram a saída do último avião dos EUA

Entre tiros para o ar e declarações exultantes, o grupo que governa o Afeganistão celebrou o fim da presença estrangeira no país depois de 20 anos de guerra.

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Os taliban passaram a controlar de imediato o aeroporto de Cabul, após a retirada dos EUA Reuters/TALIBAN HANDOUT

A saída do último avião militar norte-americano de Cabul, acto que marcou a retirada definitiva dos EUA do Afeganistão após 20 anos de guerra, foi celebrada pelos taliban com tiros para o ar.

Foi precisamente às 23h59 (menos quatro horas em Portugal continental) de segunda-feira que o último de cinco aviões C-17 da Força Aérea dos EUA levantou voo do aeroporto internacional Hamid Karzai, palco nas últimas duas semanas de um esforço de evacuação sem precedentes que permitiu a retirada de 123 mil pessoas. No entanto, para trás ainda ficou um número indeterminado de civis afegãos sinalizados por vários países como possíveis alvos dos taliban.

“Há muito desgosto associado a esta saída”, disse o comandante do Comando Central dos EUA, o general Frank McKenzie. “Não conseguimos retirar toda a gente que queríamos, mas penso que se ficássemos mais dez dias não o iríamos conseguir fazer”, acrescentou durante uma conferência de imprensa no Pentágono.

A retirada norte-americana, que devia acontecer até esta terça-feira segundo o acordo entre Washington e os taliban, foi celebrada em Cabul e em várias cidades por elementos do grupo extremista. A concretização da saída dos EUA é vista pelos novos líderes do Afeganistão como um momento de independência, depois de há cerca de 20 anos terem sido afastados do poder e, desde então, terem travado uma guerra contra a coligação liderada por Washington.

“Não temos qualquer dúvida de que o Emirado Islâmico do Afeganistão é uma nação livre e soberana”, disse aos jornalistas a partir do aeroporto o porta-voz taliban, Zabihullah Mujahid. “A América foi derrotada e, em nome da minha nação, queremos ter boas relações com o resto do mundo”, acrescentou.

Vídeos que chegavam da capital afegã logo após a saída do último avião dos EUA mostravam o céu iluminado com tiros de metralhadora para marcar o momento de celebração. Por outro lado, o Exército dos EUA distribuiu uma imagem do último militar que embarcou no último avião a sair do Afeganistão.

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“Não consigo expressar a minha felicidade em palavras, os nossos 20 anos de sacrifícios resultaram”, afirmava o combatente Hemad Sherzad, citado pelo Guardian.

Uma das primeiras acções dos taliban foi a tomada de controlo imediata das instalações do aeroporto da capital, removendo as barreiras que tinham sido erguidas para impedir o acesso livre à infra-estrutura.

Ainda não se sabe como é que irá decorrer o funcionamento do aeroporto a partir de agora. Os taliban estão em conversações com a Turquia e o Qatar para obter apoio na gestão e segurança do local de forma a assegurar que as pessoas que continuam a querer abandonar o Afeganistão o possam fazer, de acordo com o Governo francês. O tema foi discutido na reunião de segunda-feira do Conselho de Segurança da ONU.

Durante o fim-de-semana, um grupo de cem países, incluindo Portugal, emitiu um comunicado em que dava conta das garantias dadas pelos taliban de que não iriam impedir a saída dos civis que tivessem documentos válidos de autorização para viajar. Vários membros da coligação que apoiou os EUA nos últimos 20 anos têm referido que não conseguiram retirar todos os afegãos que cumpriam os requisitos para o resgate.

Para além disso, há centenas de cidadãos norte-americanos, britânicos e de outras nacionalidades que permanecem no Afeganistão e cuja saída do país passa a estar dependente dos taliban. “Não temos ilusões de que isto será fácil ou rápido”, afirmou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken.

Antes de se retirarem em definitivo do país, as forças norte-americanas desactivaram os sistemas de defesa antiaérea que estiveram a proteger o aeroporto nos últimos dias e destruíram mais de 70 aeronaves, incluindo helicópteros, e dezenas de veículos, diz a Reuters.

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