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Mais do que peixes, Wayan, de 90 anos, pesca plástico, na esperança de limpar o oceano
Na ilha de Bali, Wayan Nyo retira, todos os dias, plástico do mar. O pescador de 90 anos assistiu ao desaparecimento dos peixes, afastados pela poluição, e teme que o lixo arruíne o lugar onde se sente mais feliz – o oceano. Este sábado, 14 de Agosto, assinala-se o Dia do Combate à Poluição.
Aos 90 anos, Wayan Nyo continua a sair de casa, todos os dias, com redes e sacos de malha, e parte, das praias de Bali, para pescar. Desde criança que encontrou no mar o seu sustento. Aprendeu a pescar sozinho e apaixonou-se pelo oceano, onde diz ser mais feliz. Não se conhece longe do mar, mas, hoje, as águas mudaram. Em vez dos grandes peixes que recorda capturar, as redes apenas trazem plástico à superfície. No pequeno documentário Voice Above Water, a realizadora Dana Frankoff acompanha a rotina de Wayan.
A quantidade de lixo no mar é tanta que deixou a pesca, o único ofício que conheceu durante toda a vida. Recolhe lixo, na esperança de recuperar o mar que um dia conheceu. “Existiam tantos cardumes, ficava tão feliz por vê-los. Lembro-me do entusiasmo que sentia. Apanhava grandes peixes, o meu barco era demasiado pequeno, por isso carregava-os até à costa”, recorda. “Hoje já não consigo apanhar estes animais porque o plástico os afastou.”
Há duas décadas, Wayan começou a notar que, entre peixes, encontrava plástico. Lançava as redes de novo: mais garrafas, embalagens. “Fiquei tão chateado que levei o lixo no meu barco até à costa”, conta. Acumulava-o até um visitante perguntar se podia transportar, de volta para a ilha de Java, todos os resíduos, para que fossem reciclados. “Há mais lixo no oceano. Vou trazê-lo todo para a costa, para que o possas levar”, respondeu Wayan.
De acordo com o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Breaking the Plastic Wave, todos os anos 11 milhões de toneladas de plástico são despejadas nos oceanos — o equivalente a um camião de lixo a cada minuto.
“Proibir sacos de plástico, apanhar lixo nas praias, reciclar ou comprar uma garrafa de vidro, apesar de essencial, não será suficiente para conter a poluição dos oceanos”, alerta João Dias Coelho, presidente do grupo ambientalista GEOTA, em comunicado a propósito do Dia do Combate à Poluição, que se assinala no sábado, 14 de Agosto. “É importante que as entidades governamentais percebam que a conservação da natureza não se faz, somente, com gestos individuais.”
A vontade de Wayan, e um esforço hercúleo nas últimas décadas, não serão suficientes. Desde 2000, terá recolhido cerca de 62 mil pedaços de lixo do mar. “Vejo pessoas a despejar resíduos no oceano, aposto que não percebem o estrago e poluição que causam.”
O plástico demora centenas de anos a degradar-se e, segundo o GEOTA, com as actuais políticas, poderão acumular-se 600 milhões de toneladas no mar até 2040 – o peso equivalente a mais de três milhões de baleias azuis.
Há 45 mil anos, a Indonésia terá sido um dos primeiros lugares onde os seres humanos se estabeleceram de forma permanente, pela abundância de recursos oferecida pelo oceano. Em 2050, é possível que exista mais plástico do que peixes no mar. Este é o contraste que dá início ao documentário, distinguido pela equipa do Vimeo como um dos melhores trabalhos divulgados na plataforma.
“Estou preocupado com o plástico no mar, um dia irá cobrir e arruinar o oceano. Precisamos de o limpar. Os meus netos juntaram-se a mim na limpeza da praia. Agora é hora da população na Indonésia se unir e ajudar”, apela Wayan. “Quero que a minha ilha regresse ao que costumava ser.”