Arquitectura
A Casa Volta fecha-se na serra de Grândola para se encher de gente
No meio de uma paisagem que parece não ter fim, cruzaram-se quatro linhas e delimitou-se um espaço. A “criação de um limite para o ser humano se sentir protegido para habitar na imensidão da paisagem” foi o rectângulo murado de partida para a Casa da Volta, bem no interior da serra, em Grândola.
Isolada num ermo, apropria-se apenas da “poética da estrutura agrícola fortificada”. “É uma casa pensada para viver com grande intensidade de vida social, que paradoxalmente está no meio de um monte”, apresenta o arquitecto Paulo Martins Barata, amigo dos proprietários e um dos responsáveis pelo projecto assinado pelo Promontorio, em co-autoria com João Cravo.
Entre os muros altos, a tipologia dominante “de ocupação em todo o Magrebe e Mediterrâneo”, encaixam-se num grande pátio os três volumes com seis suítes, as salas e cozinha e o quarto de serviço e garagem.
As paredes espessas quase cegas abrem-se “numa grande janela” onde a casa implantada numa linha de vale se afunda num terraço e num tanque sobre a paisagem inóspita de vegetação seca. A forra de pedra colada (“intencionalmente falsa”) e a cobertura que “sugere a existência de um telhado que é evidente que não existe” piscam o olho “a uma ironia sincera”. Uma arquitectura atiçada por “um certo pragmatismo idealista”, continua o arquitecto, em que “a única condição que dá para trabalhar é sobre esta ironia”.
Muito perto dali, a menos de 200 metros, e embora “pareçam as duas muito remotas”, ergue-se uma outra moradia de tonalidade terrosa, assinada pelo arquitecto Ricardo Bak Gordon e também publicada no P3.
Fora do círculo de amigos, convidados e hóspedes, a Casa Volta “reuniu milhares de seguidores” online em redor, muitas vezes, de aspectos visuais da habitação que revelam este “lado convivial”. “Há uma dimensão social na casa que é incrível”, ri-se Paulo Martins Barata, hiperbolizando uma genuína perplexidade: “Continuo ainda sem saber porque é que as pessoas seguem casas.”