“Testar em animais é dar uns passos atrás na nossa evolução enquanto sociedade”

O maior objectivo, garante a fundadora da Beauty by Noor, é “mostrar aos portugueses que existem produtos de qualidade e eficazes, que respeitam o meio ambiente e todos os seres”

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Além de cruelty-free, a maioria dos produtos é vegan e utiliza ingredientes naturais Unsplash/Nataliya Melnychuk
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Andreia Santos, fundadora da Beauty by Noor DR
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A Teami é a mais recente marca à venda na loja online DR
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Nos próximos dois anos, a Beauty by Noor pretende lançar uma marca própria DR
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Os produtos utilizam ingredientes 100% naturais DR
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Além de cuidados de pele, é possível encontrar produtos de cabelo e bem-estar DR

A comercialização de produtos cosméticos acabados ou que tenham ingredientes testados em animais é proibida, desde 2013, na União Europeia — mesmo que esses produtos tenham sido testados noutros países. No entanto, mais de 80% das nações ainda permitem a realização deste tipo de ensaios e a comercialização dos respectivos produtos. As lacunas na lei europeia deixam margem para manobra. Há empresas que conseguem colocar no mercado europeu produtos testados em animais, se forem novamente ensaiados já dentro da União Europeia.

Enquanto se espera por uma mudança na lei e o Parlamento Europeu luta para que, até 2023, a proibição se torne global, Andreia Santos fundou a  Beauty by Noor , uma loja online portuguesa de produtos cruelty-free (sem crueldade sobre animais). Já trabalhava na área do comércio digital quando, em 2018, decidiu abrir uma loja dedicada à cosmética. Foi durante a pesquisa que descobriu que muitas marcas continuavam a fazer ensaios em animais. “Para nós, enquanto marca, não faz sentido testar em animais, porque há toda uma evolução tecnológica e científica em alternativa”, começa por explicar ao PÚBLICO. “Testar em animais é dar uns passos atrás na nossa evolução enquanto sociedade”, acrescenta.

Hoje, volvidos quase três anos da abertura da Beauty by Noor, já comercializam 42 marcas diferentes, com uma média de 60 encomendas diárias. A garantia é de que nenhum dos produtos à venda foi testado em animais. O maior objectivo, garante, é “mostrar aos portugueses que existem produtos de qualidade e eficazes, que respeitam o meio ambiente e todos os seres”. E a oferta abrange quase toda a gama de cosmética, entre produtos capilares, cuidados de pele, e o bem-estar, com chás e suplementos.

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Andreia Santos, fundadora da Beauty by Noor DR

Estes produtos cruelty-free, explica Andreia Santos, não são mais caros do que a cosmética convencional, excepto alguns que utilizem apenas ingredientes naturais (também uma aposta da Beauty by Noor ). Além disso, alguns dos nomes são totalmente novidade no mercado português, como é o caso da Teami, uma marca norte-americana de cuidados de pele com ingredientes 100% naturais. É de destacar, por exemplo, também a marca dinamarquesa Grums, que utiliza a borra de café como base para os seus cosméticos.

Quanto a revender produtos de empresas portuguesas, Andreia Santos enaltece o trabalho que tem sido feito pela cosmética nacional, com ingredientes naturais, mas lamenta que as condições de revenda não sejam as melhores. “Entendo as marcas porque é muito difícil criar em Portugal”, reconhece. Ainda assim, na Beauty by Noor é possível encontrar a portuguesa Bam&Boo, com produtos sustentáveis de higiene oral.

“Está nas nossas mãos, enquanto consumidores, fazer essa mudança”

Mas ser cruelty-free não é um exclusivo das marcas mais pequenas e Andreia Santos dá como exemplo nomes com maior expressão na indústria, como a Dove, a Quem Disse Berenice ou a The Body Shop, todas activamente envolvidas na luta contra a testagem em animais. Ratos, murganhos e coelhos são as principais vítimas dos estudos da cosmética. Só nos Estados Unidos, onde os testes são permitidos em 46 estados (as excepções são Califórnia, Illinois, Nevada e Virgínia), a associação PETA estima que morram mais de 100 mil animais por ano, vítimas desta crueldade, não só da indústria dos cosméticos, mas também do sector da alimentação, farmácia, entre outros.

A alternativa na cosmética é simples e não representa custos acrescidos para as empresas. “Os tecidos criados artificialmente dão provas de que são eficazes e seguros”, salienta a fundadora da Beauty by Noor. Como métodos alternativos à utilização de animais existem, por exemplo, testes de irritações com modelos que reconstroem a epiderme humana, métodos in silico e in vitro. Andreia Santos destaca, ainda, os testes in vivo, em que são pessoas a voluntariar-se para testar os produtos.

“Está nas nossas mãos, enquanto consumidores, fazer essa mudança”, apela a empresária. Como? “A nossa exigência é tão simples quanto começar a comprar produtos que se aplicam a esta filosofia [do cruelty-free]”, esclarece. As marcas vêem-se obrigadas a responder às exigências do mercado, o que já tem acontecido, com a criação de linhas vegan ou naturais (nem sempre sinónimo de sem crueldade).

Nos próximos dois anos, está nos planos da Beauty by Noor a criação de uma marca própria. “A nossa ideia é ir buscar excedentes de produtores locais”, revela Andreia Santos. Para ainda este ano têm em andamento um projecto com uma nutricionista, uma enfermeira e uma dermatologista, em que pretendem prestar apoio e aconselhamento aos clientes, de forma gratuita.

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