Arquitectura
De um rés-do-chão abandonado se fez um rés-do-chão habitado: e assim se muda o Porto
O colectivo de arquitectura Oitoo recuperou mais um dos 173 rés-do-chão vazios da freguesia de Paranhos, no Porto. Habitar o rés-do-chão não significa abdicar do conforto, luz ou privacidade – e esta casa quer prová-lo.
“Mas o Porto não tem tanta necessidade de casas, e a baixo custo?” é a questão provocatória do colectivo de arquitectura Oitoo, empenhado em mudar a opinião pública sobre os rés-do-chão da cidade.
Laura Lupini, João Machado, Diogo Zenha Morais e Nuno Baptista Rodrigues estudam, desde 2017, a freguesia de Paranhos, no Porto, onde contaram quantos eram os espaços sem uso. Agora, querem provar que não é descabido habitá-los.
Encontraram 173 rés-do-chão vazios, mais de 20 mil metros quadrados sem uso, que poderiam ser a casa de cerca de 1200 habitantes. A Casa no Rés-do-Chão, na Rua de Álvaro de Castelões, é o seu segundo projecto de reabilitação na freguesia, concluído em 2021. Uma requalificação que exigiu um design de interiores particularmente cuidadoso, com atenção à mediação entre o espaço público e o espaço privado, às necessidades de luz natural e artificial e à renovação das traseiras antes abandonadas que se transformam em “jardins secretos”.
“Não podemos continuar a conviver com o abandono. Estes moradores habituaram-se a ver portões enferrujados, um espaço com problemas de higiene, porque ninguém se queixava”, defendeu o arquitecto João Machado, em entrevista ao P3, em Junho. “Espaços vazios no rés-do-chão significam ruas sem vida ou actividade: só a sua apropriação pode evitar usos abusivos do espaço público.”
Os quatro arquitectos conheceram-se na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e fundaram, duas décadas mais tarde, o Oitoo, unidos por um gosto por recuperar o que já existe, mas que outros vêem apenas como lixo. Nas palavras de Diogo Zenha Morais: “Fechados é que os espaços se estragam, degradam-se. Uma porta fechada não cria relação nenhuma.”