Férias com filhos
O merecido repouso, o abençoado descanso, a tão desejada pausa das tarefas. É mais do que paz e amor, é plenitude — ou quase.
Férias com filhos. Gratificante, sem dúvida. Vê-los descobrir, incautos e felizes, a força das ondas a bater no areal. — Essa toalha não é nossa, saiam daí! — Vê-los correr, contentes, atrás das gaivotas. Vê-los erguer castelos com mais júbilo do que qualquer rei — Tira o protetor da boca, isso não é para comer! — Ver a sua felicidade incipiente, a sua curiosidade pueril a manifestar-se e a descoberta do mundo a revelar-se, ali mesmo, perante os nossos olhos — Pára de atirar areia à tua irmã! — Oh! A infância! Esse estado de contínu... — Mãe tenho cocó! Vou tirar. — Calma, não arranques a fralda sozinha, fica tudo sujo!
Onde é que eu ia? Oh, sim, a infância! O deslumbramento com a praia! E a combinação do estado primário da existência com esse palco de todos os sonhos que é a extensão azul do oceano. Esse sossego — Mãe, quero um gelado! — Agora não, quando formos ao bar. Toma uvas. — O suave marulhar, a leve brisa que se levan... Não enterres as uvas na areia! — Como é enriquecedor, poder presenciar a alvorada das novas sensações — Devolve o balde ao menino! Desculpe, é que nós temos um balde igual! — ver como os seus pequenos olhos se prendem em pormenores aos quais nos desabituámos de dar o devido valor: as pulgas da areia, as conchinhas — Quero o balde! Quero o balde! — O balde não é nosso! —, ver como chapinham nas pocinhas, alheios à passagem do tempo, é a confirmação divina de que tudo está alinhado — Não faz mal, ela pode brincar com o balde! — Obrigada, já devolvemos!
É impossível que o nosso coração não se enterneça e é inevitável que o nosso pensamento regresse, também, à nossa infância. Tudo segue na mais pura harmonia — Mãe entrou areia no olho! Faz dodói! — Vamos ao mar tirar. — É mais do que paz e amor, é plenitude — Buáááá! Buáááá! — como é belo vê-los livres, soltos e leves — Buááá! Tá fria, tá fria! — luminosos, como raios de sol, exultantes, como golfinhos, esplendorosos, como ondas — Onde é que arranjaste essa bola-de-berlim?! — O merecido repouso, o abençoado descanso, a tão desejada pausa das tarefas — Não esvaziem as braçadeiras! — Um ano inteiro de espera para finalmente chegar o momento de tranquilidade e — Mãe, quero ir fazer chichi! — Está bem, vamos ali ao mar — total fruição da natureza e da sua calma — Quero fazer aqui! Já está! — O apurar dos sentidos, o cheiro da maresia, poder parar e absorver tudo o que nos envolve. — Anda cá, vamos trocar o fato de banho! Não fujas! — O tempo de qualidade, o sermos todos um, a família e o universo. Tudo se clarifica e flui, como uma dança graciosa. — EU JÁ DISSE PARA NÃO EMPURRARES A TUA IRMÃ! — Férias louvadas. O prazer de não fazer nada, — Mãe! — o dolce far nie... — Mãe! — carpe diem — Mãããeee! — O poder do agora — Ohhh mããeeee! — O que foi? — Aquela menina tem o chapéu da Frozen! Let it gooo, LET IT GOOOO!
E assim se sucedem os dias. Descansados, a usufruir do silêncio, da inércia e da contemplação, num estado de quase meditação, onde nenhum som nos chega, para além do ameno borbulhar da espuma — LET IT GOOOO, LET IT GOOOOO!
A ausência total de preocupações, a comunhão com o todo e com a nossa essência, apercebermo-nos de que somos calmos e pacíficos por natureza, que são as contrariedades da vida acelerada que despontam em nós o stress e o peso da responsabilidade — A água do mar não é para beber!
Oh! Como é maravilhoso chegar ao fim das férias assim — tira essa beata da boca! — rejuvenescidos!