Mais de três meses após bloquear o Canal do Suez, Ever Given levanta âncora

A partida do super-navio do porto de Ismailia foi motivo para “celebrar o fim de uma crise” e congratular os esforços das equipas que desencalharam a embarcação de 400 metros de comprimento.

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O porta-contentores Ever Given zarpou do Canal do Suez esta quarta-feira AMR ABDALLAH DALSH/Reuters

Em Março o navio Ever Given ficou encalhado no Canal do Suez, bloqueando uma artéria fundamental do transporte marítimo por onde passa mais de 10% do comércio mundial. Foi libertado seis dias depois, mas só esta quarta-feira foi autorizado a levantar a âncora: assinadas as compensações legais de milhões de dólares às autoridades egípcias, o porta-contentores vai retomar o seu rumo.

No final da manhã, o navio já começara a sua viagem para Norte, escoltado por dois barcos rebocadores e guiado por dois pilotos experientes até atravessar o canal, avançaram as autoridades do canal.

Para marcar a partida do porta-contentores, a Autoridade do Canal do Suez (SCA) organizou uma cerimónia no porto de Ismailia. Para assinar o acordo e “celebrar o fim de uma crise”, nas palavras de Khaled Abu Bakr, advogado egípcio que representa a autoridade.

Yukito Higaki, presidente da empresa japonesa que detém o navio, Shoei Kisen Kaisha Ltd., expressou a sua gratidão ao canal e ao presidente da SCA, Osama Rabie. Higaki referiu que a sua empresa, que tem “uma ampla frota de navios, vai continuar a ser um cliente regular e leal do Canal do Suez”, por ser este “um recurso indispensável ao comércio marítimo internacional”.

Também os egípcios afectados pelo incidente receberam com alívio e satisfação a partida do navio. Tarek Alzeki, capitão de um rebocador que transportava jornalistas, afirmou, citado pela Reuters, que estavam “muito contentes” pelo desenlace e que agora só esperam que o super-navio “chegue em segurança”.

O “acordo justo”, segundo Rabie, que permitiu a saída foi assinado esta quarta-feira de manhã entre a SCA e os proprietários do Ever Given, na sede da autoridade em Ismailia, permitindo ao navio levantar âncora em direcção a Roterdão, nos Países Baixos e depois para Felixstowe no Reino Unido.

Inicialmente, a Autoridade do Canal do Suez pediu uma indemnização de 916 milhões de dólares, o que incluía 300 milhões de dólares para compensar os prejuízos na reputação. Desceram depois o valor para 550 milhões de dólares. Mas não se sabe o valor que foi acordado entre as duas partes e que deu luz verde à saída do navio. 

Segunda paragem

A 23 de Março, o porta-contentores gigante bloqueou o canal que encurta a distância entre a Ásia e a Europa, deixando centenas de navios congestionados e prejuízos de milhões, perturbando cadeias de fornecimento globais.

Depois da libertação do canal, decorreram investigações sobre o incidente e as autoridades egípcias exigiram o pagamento dos custos da operação que desencalhou o navio, dos danos feitos no canal e os prejuízos financeiros. O navio ficara, mais uma vez, retido.

Durante esse período o porta-contentores ficou parado no Grande Lago Amargo, com os 17.600 contentores e a tripulação que seguia a bordo. Segundo o Washington Post, os responsáveis egípcios faziam visitas regulares ao navio, levando algumas provisões, nomeadamente vegetais frescos e água para a tripulação.

Enquanto decorriam os trabalhos para libertar o navio, as autoridades egípcias apresentaram uma proposta para voltar a alargar o canal – onde passa cerca de 15% no tráfico marítimo comercial mundial –, uma importante fonte de lucro para o país. Para as autoridades egípcias, o incidente tornou “claro o quão importante é o Canal Suez para o mundo inteiro”, disse o piloto-chefe da SCA, Farid Roushdy, citado pelo Washington Post.

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