Hong Kong vai censurar filmes em busca de “ameaças à segurança nacional”
Governo do território semi-autónomo expande a autoridade da sua comissão de censura, na sequência da aprovação de uma nova lei de segurança nacional pelas autoridades de Pequim.
As autoridades de Hong Kong vão começar a censurar todos os filmes nacionais e estrangeiros em busca de casos que possam ser interpretados como “violações da segurança nacional”, no mais recente exemplo do reforço do controlo da China sobre o território semi-autónomo.
Num comunicado publicado esta sexta-feira, o Governo de Hong Kong anuncia que foram feitas “emendas às orientações para os censores”, no sentido de expandir a sua autoridade sobre a verificação e classificação dos filmes. As mudanças foram feitas na sequência da aprovação, no Verão de 2020, de uma nova lei de segurança nacional por Pequim.
“O censor deve prestar atenção à representação de qualquer acto ou actividade que possa constituir uma ameaça à segurança nacional, ou que possa pôr em perigo, de qualquer outra forma, a defesa da segurança nacional de Hong Kong, e a qualquer conteúdo que seja objectivamente passível de ser entendido como um apoio, promoção, glorificação, encorajamento ou incitação aos referidos actos e actividades”, lê-se no comunicado.
A censura dos filmes na China é muito rigorosa, e são poucos os filmes que chegam às salas de cinema do país a cada ano. Mas em Hong Kong, os censores costumavam ter uma atitude menos restritiva, numa indústria local com sucesso internacional.
Mas há sinais cada vez mais preocupantes de que as autoridades querem apertar o controlo sobre os mundos da cultura e da arte no território de Hong Kong.
Em Março, um documentário sobre os protestos pró-democracia de 2019 e 2020 foi retirado de circulação horas antes da estreia, sob a acusação de que continha ameaças à segurança nacional. A nomeação do mini-documentário Do Not Split para um Óscar levou o canal TVB a não transmitir a cerimónia de entrega dos prémios de Hollywood pela primeira vez em 50 anos.
No início do ano, uma universidade local cancelou uma exposição de fotografia que continha imagens dos protestos de 2019, também citando ameaças à segurança nacional. E os responsáveis do museu de artes visuais M+, que está a ser construído em Hong Kong, já anunciaram que vão permitir que as autoridades locais vetem as obras antes da abertura das portas, no final do ano.