Arte xávega: “Uma manhã a puxar a rede para ter meia dúzia de peixes”

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Durante os cerca de três meses em que Hugo Ribeiro esteve na embarcação de David Oliveira e Manuel Maria — o barco Pedro, o pescador —, teve oportunidade de "sentir e escolher o peixe, ir ao mar com os pescadores, puxar as redes" ou dar uma mão sempre que algum percalço acontecia. Mas o objectivo era fotografar a arte xávega, uma ideia que já tinha na cabeça há "cerca de quatro anos". Na verdade, já fotografa esta companha (tripulação de um navio ou barco de pesca) desde então, mas "nunca foi um fotografar tão íntimo e tão próximo", conta ao P3 o fotógrafo de 25 anos de Santa Maria da Feira. Em 2020, contudo — e a propósito de um curso de fotografia —, decidiu fazer "uma coisa com cabeça, tronco e membros e homenagear" os pescadores.

No Verão de 2020 aventurou-se a ir para o mar com eles, partindo da Praia do Torrão do Lameiro, em Ovar, e entrando no "imprevisível da noite". Os pescadores "vão na esperança que o mar faça valer toda esta azáfama matinal e os recompense com um bom lanço de pesca", escreve, na descrição do projecto. Lá, o trabalho é duro: "Passam uma manhã a puxar uma rede para chegar cá fora e ter meia dúzia de peixes", relata. 

As suas fotografias mostram os rostos, as cordas, os peixes: os que fazem a arte xávega sobreviver — pelo menos enquanto conseguem. "O senhor David e o senhor Manuel decidiram não voltar ao mar. Encerraram a companha e o mar acabou para eles. É menos uma companha de pesca que existe no concelho de Ovar", lamenta. As mais de 1500 fotos que captou são, essencialmente, uma forma de os homenagear. Dessas, 60 foram seleccionadas para dar origem a um livro e uma exposição de 20 imagens que foi inaugurada esta segunda-feira, 7 de Junho, no posto de turismo da Praia de Furadouro, em Ovar — e que lá ficará, todos os dias, até 15 de Setembro. E a pergunta impõe-se: até quando sobreviverá esta arte?