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Um tecido vermelho rasgou Lisboa para nos falar de VIH — e combater o estigma
A 1 de Dezembro de 2020, um tecido vermelho de 50 metros cortou as ruas da Baixa lisboeta. Seria “sangue a irromper as artérias da cidade”, uma passerelle anti-preconceitos, um símbolo de todas as vidas que foram ceifadas numa outra pandemia? Um tecido vermelho que envolveu vários corpos, todos iguais, mas todos diferentes, todos ligados e também esganados, no “espaço mais democrático que existe”: a rua.
A performance #HIVisible 2gether, que se apresenta neste documentário, estendeu-se além-fronteiras e serve de cartão de visita ao colectivo Viral, que, através da arte, quer ajudar a “construir” e tornar “visível” uma “comunidade de pessoas que vive com VIH”, explica Teresa Fabião, bailarina, investigadora e co-fundadora deste grupo, ao lado de Paolo Gorgoni (mais conhecido no activismo como a drag queen Paula Lovely) e Luca Modesti (aka cartoonista Er Baghetta).
Reclamam “novas narrativas” para destruir o estigma, o silêncio e o preconceito que ainda rodeiam os seropositivos, dando poder, e voz, aos protagonistas, mas convidando também pessoas “seroenvolvidas” (simpatizantes com a causa) a “desmontar opressões” — a porta está aberta a quem se quiser juntar. “A arte ajuda a criar novos imaginários, imagina novos futuros e traz a possibilidade de fazer a reconstrução de uma narrativa mais actual em torno do VIH e sida”, explica a activista. Que mostre a diversidade, beleza e resiliência destas vidas.
Foi a 1 de Dezembro de 2020 que o Viral subiu ao palco pela primeira vez, por assim dizer. No Dia Mundial de Luta contra a Sida, termos “bélicos” com que Teresa Fabião não se identifica, preferindo encarar a efeméride como uma “celebração dos progressos” feitos em relação a esta outra pandemia — médicos, sobretudo, porque, a nível social, “o medo, o silenciamento e a discriminação continuam a deprimir e a matar”. E, como dizem neste filme, que aqui se estreia, “o estigma ao redor do VIH gera mais VIH”.
Mais acções virão, nos próximos meses, a nível transnacional e também online. Desta vez, vão fazer um “contraponto” entre as duas pandemias: VIH/sida e covid-19. “Porque tudo isto que está a acontecer já aconteceu”, começa Teresa. “O medo de abraçar, pessoas que morrem sozinhas no hospital, o atravessar do passeio, a guerra farmacêutica, o estar na penumbra... isto já aconteceu. E existe uma sabedoria nos corpos positivos que precisa de ser falada.”