Fotografia
De luzes que dançam se faz o corpo, as mãos fazem-se de vulnerabilidade
Em fotografia analógica, Marta Oliveira retrata o corpo humano em toda a sua crueza e verdade, onde as mãos são o espelho do ser. As mãos que fotografam, as mãos que escrevem, as mãos que fazem parte do corpo que repousa na luz.
Começou por fotografar-se a si mesma, despida, sozinha. “Pensei que se fosse pedir a outras pessoas para estarem também aqui, no centro da acção, era mais do que justo começar por mim”, começa por contar ao P3. A partir daí, fotografou amigas e outras mulheres que se quiseram envolver no projecto.
Marta Oliveira quer expor o corpo feminino, “aprofundar este lado da vulnerabilidade e do estarmos nus perante os outros, e o que isso mostra de nós próprios e das outras pessoas”. O corpo da mulher, acredita, é “muito objectificado” e com estas imagens pretende mostrá-lo como ele é. Nu, frágil, um corpo. “Acho que as pessoas podem estar nuas, ou podem ter fotografias de partes do corpo e não têm de ser vistas com esse olhar.”
Como uma alfaiate de memórias, vai cosendo estes retratos com versos, numa união de artes que lhe é natural. “Transpor aquilo que eu sinto, que me faz sentido e a maneira como eu vejo os outros e como vejo as coisas que me rodeiam” é como define o seu trabalho, que vai expondo no Instagram. As mãos estão sempre presentes.
Quando começou a fotografar corpos e a focar-se nas partes ao invés do todo, as mãos sobressaíram como um pormenor “que diz muito sobre as pessoas”. Aos olhos de Marta, os anos, a vida e até a personalidade do outro reflecte-se aqui: “Hoje em dia acho que não consigo fotografar ninguém sem acabar por fotografar as mãos”. Quer seja “na sombra ou nas luzes que dançam”, em imagens que muitas vezes transparecem o “erro bonito” de fotografar em analógico.
Texto editado por Ana Maria Henriques