Influencers franceses aliciados a passarem informação falsa sobre vacina da Pfizer

Os influencers foram instruídos para fazerem parecer que estavam a dar conselhos aos seus seguidores. Nas suas publicações deveriam transmitir o perigo da vacina e criticar os órgãos de comunicação e governos.

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Reuters/DADO RUVIC

Nos últimos dias, diversos influencers franceses ligados à área da saúde e da ciência têm vindo a público relatar que foram contactados para transmitir informações falsas sobre a vacina da Pfizer, em troca de dinheiro.

“Esta manhã [20 de Maio] recebi um pedido de parceria que me chocou seriamente, sou obrigado a partilhá-lo convosco”, começa por escrever no Twitter Sami Ouladitto, conhecido pelo seu canal de YouTube homónimo, que conta com mais de 400 mil subscritores. “Uma agência contactou-me para compartilhar, em troca de pagamento, artigos que desacreditassem a vacina Pfizer, e para falar sobre sua taxa de mortalidade”, acrescentou.

Léo Grasset, fundador do canal de YouTube DirtyBiology, seguido por mais de um milhão, relatou uma história similar quatro dias mais tarde, a 24 de Maio, na mesma rede social. “Orçamento colossal, o cliente quer permanecer incógnito e o patrocínio tem de ser ocultado”, divulgou. Juntamente com o texto, Grasset expôs capturas de ecrã da mensagem que recebeu. Nestas pode-se ler “não uses as palavras ‘publicidade’, ‘vídeo patrocinado’, etc. nos teus posts, histórias e vídeos! Eles devem parecer um conselho para a audiência”. “Apresenta o material nativamente. Age como se tivesses a paixão e o interesse neste tópico. Apresenta o material como a tua própria perspectiva independente”, continuava o texto.

As conclusões que se deveriam retirar das publicações em torno do tema eram também desde logo fornecidas. A primeira, sobre o perigo desta vacina em comparação com outras: “Elabora a conclusão principal: a taxa de mortalidade entre os vacinados pela Pfizer é quase três vezes maior do que entre os vacinados pela AstraZeneca.” Depois, um ataque aos órgãos de comunicação social: “Diz que os principais meios de comunicação ignoram este tema e tu decidiste partilhá-lo com o teu subscritor”. E, por fim, aos governos dos países: “Coloca uma questão como ‘porque é que alguns governos compram activamente a vacina Pfizer, que é perigosa para a saúde das pessoas?’”.

A agência em questão, a Fazze, supostamente sediada no Reino Unido, foi rapidamente associada à Rússia. Além dos erros presentes nas construções frásicas, suscitando a dúvida sobre o real país de origem do autor das mensagens, também a morada fornecida não correspondia à empresa em questão. Como explica Grasset, “o endereço da agência londrina que me contactou é falso. Nunca tiveram lá quaisquer escritórios, é um centro estético! Todos os funcionários têm perfis de LinkedIn estranhos... que desapareceram esta manhã. Todos trabalharam na Rússia antes”.

O acontecimento surge depois da publicação de um relatório da União Europeia, a 28 de Abril, que expôs uma tentativa sistemática, por parte dos meios de comunicação russos e chineses, de espalhar desinformação com o objectivo de fomentar desconfiança em relação às vacinas contra a covid-19 desenvolvidas pelo Ocidente. A vacina da Pfizer é, actualmente, a mais administrada entre a população francesa (tal como em Portugal).

Ao canal de notícias francês BFMTV, o ministro da saúde, Olivier Véran, reagiu, terça-feira, ao sucedido: “Não sei de onde isto [oferta de parceria] vem, da França ou do estrangeiro. É patético, é perigoso, é irresponsável e não funciona”. Quanto aos influencers, deixaram uma mensagem final clara ao seu público: tenham cuidado com aquilo em que acreditam, independentemente da fama de quem o diz.

Texto editado por Carla B. Ribeiro

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