O big bang Wong Kar Wai

As duas primeiras longas do cineasta de Hong Kong em estreia comercial em Portugal. Podemos então começar pelo princípio. Percebendo ao mesmo tempo que não vamos completar um saber que iluminará uma linearidade horizontal, “evolutiva”. Não, o “primeiro” Wong Kar Wai já é todo Wong Kar Wai. Trata-se depois de cair dentro de cada um, numa vertigem amparada.

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Days of Being Wild: nostalgia e torpos; o action movie passou-se na sala com os espectadores a atirarem objectos ao ecrã
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Foi em 1991, estava o palco dos festivais internacionais disponível para amar o cinema de Hong Kong (e o de Taiwan também...), consumindo a produção industrial e o que se anunciava como Nova Vaga, dessa forma ligando-se mestres e pupilos, veteranos e mais jovens, quando irrompeu em Berlim Days of Being Wild/Dias Selvagens. Considerado por alguns a única grande descoberta dessa edição, era eloquente a comparação com a restante produção de Hong Kong que inundava o festival, nesse ano e nesses anos palco sem concorrência para revelar o sortilégio dos olhos da Ásia: Days of Being Wild nada tinha a ver com os action movies da produção corrente de HK, a saber, filmes de artes marciais e histórias de fantasmas, e a prova da sua distinção, a sua medalha de guerra por assim dizer, fora, mais do que o flop comercial local, a forma como os espectadores repudiaram aquilo com que Wong Kar Wai (era esse o boy wonder) os tentara seduzir: com nostalgia, com torpor. É que para tanto, veja-se o insolente!, até convocara as maiores estrelas do planeta asiático. Rezam então as crónicas que o action movie passou-se na sala com o arremesso de objectos ao ecrã, onde tremeluziam Maggie Cheung, Leslie Cheung (o malogrado Leslie, 1956-2003), Carina Lau e Tony Leung, astros de um novo firmamento que os espectadores ocidentais aprendiam a tratar por “tu”.

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