Rankings, para que vos queremos

Perceber que a competição é importante para evoluir é o primeiro passo. E é aqui que temos de nos deter: evoluir. Analisar quais estão a ser os procedimentos que nos levaram a estes resultados.

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Daniel Rocha

A competitividade saudável é vista como factor de evolução, de desenvolvimento, com vista à diferenciação, mas sobretudo à criação de novos e criativos mecanismos que levem a progredir.

Os rankings das escolas dão-nos, à primeira vista, a informação seriada das médias dos resultados dos exames nacionais que os alunos de cada escola realizaram. Por disciplina, por concelho, por contexto socioeconómico. Ponto.

É claro que ficar entre os dez ou 20 primeiros lugares é sempre motivo de orgulho e satisfação.

Na época em que se fala tanto de dados e que se considera tão importante a informação que eles nos trazem, que informação podemos retirar dos dados dos rankings? Esta parece-me uma abordagem mais salutar do que ficarmos presos à inveja, à congeminação de prováveis comportamentos pouco éticos, ao desenvolvimento de qualquer sentimento de inferioridade e comiseração. Este tipo de atitude separa-nos cada vez mais uns dos outros, impossibilitando-nos até de trocarmos ideias, experiências, partilharmos projectos; promovendo o isolamento e a falta de novas e diferentes perspectivas.

Os rankings são um tratamento de dados, de acordo com diversos critérios. Se quisermos dizer que põem em confronto contextos socioeconómicos diferentes, geografias e ainda ensino público contra ensino privado, é porque são (apenas) essas as informações que retiramos dali. O que é pouco.

Como pessoas ligadas à educação, habituadas a abrir horizontes, e explorar possíveis interpretações, percebemos facilmente que será muito redutor determo-nos nesta visão mesquinha de superioridade ou inferioridade, de intrigas, suposições e maledicência.

Vamos lá olhar para este trabalho que é dado às escolas com a possibilidade de cada um o trabalhar com novas lentes!

Ultrapassada esta ideia de que os rankings servem para ver quem é melhor do que quem, os dados só nos servem quando nos são úteis e os podemos trabalhar. Se não podemos ou não queremos fazer este caminho de análise, então mais vale não ligar a qualquer tipo de tratamento de dados.

Perceber que a competição é importante para evoluir é o primeiro passo. E é aqui que temos de nos deter: evoluir. Analisar quais estão a ser os procedimentos que nos levaram a estes resultados. Esta análise dá-nos a possibilidade de poder decidir se queremos assim continuar, porque contribui para concretizar o propósito e a razão de ser da nossa escola, por exemplo, ou tomar novas medidas. Mas esta análise deve ser feita com base em trabalho de rastreio e evidências, e não por uma qualquer sensação empírica, do “eu acho que”. Ou seja, trabalhar os dados com seriedade, para encontrar verdadeiras respostas e caminhos de futuro. Os rankings, que aparentemente promovem a competição e o afastamento entre as escolas, podem até ser inspiradores.

Podem dar aos líderes educativos a percepção de que para chegar à meta que querem alcançar não têm os professores que precisam, por exemplo, ou que estes precisam de desenvolver determinadas competências que estão a faltar.

Isto significa que nos mostram possíveis causas e caminhos a desenvolver. Apontando a meta, estabelecendo as fases do caminho e comunicando de forma eficaz a toda a comunidade educativa o percurso a trilhar, os líderes das escolas promovem a coesão, o espírito de corpo e o sentido da missão da sua escola. Apelar à diversidade e à necessidade da colaboração e empenho de todos é crucial para qualquer mudança. E aqui se abre um mundo novo de possibilidades e da tal evolução: O acompanhamento da mudança, o feedback construtivo, a disseminação do propósito e de desenvolvimento de cultura da escola, a valorização de diferentes perspectivas e ainda a possibilidade de introduzir espaços criativos e seguros de desenvolvimento de respostas rápidas e eficazes aos problemas detectados, reduzindo a burocracia, ou seja, introduzir agilidade na escola.

Mostrar as diferenças e valorizá-las é perceber que é através desta diversidade que chegamos a todos, que nos assumimos como agentes educativos de um sistema, em que, para além desta razão de ser maior, cada um cumpre o seu propósito, no espaço em que se encontra, com os recursos que tem e com a população que serve. E que há espaço para fazer melhor. Sempre!

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