Ao longo do tempo continuamos a ouvir algumas vozes que dizem que as escolas deviam funcionar como empresas, com a possibilidade de poderem contratar e despedir os seus funcionários, em vez de terem de contar com pessoas que não querem trabalhar, que só atrapalham, por muito esforço de motivação que seja feito. Pergunto se só por esta razão é que as escolas podiam e deviam funcionar como empresas.
Será uma tarefa para heróis, desconstruir estas crenças culturais, inquestionáveis, que todos temos sobre as escolas, que nos oprime e dificulta que partamos para um novo paradigma. As escolas cumprem a função nobre de ensinarem e de trabalharem com as famílias Temos associada a esta nobre função, a questão de não ter lucro. Ainda para muitos de nós, aquilo que é nobre faz-se por paixão e não para ter lucro, temos que viver dignamente, mas não gerar mais-valias.
Mesmo em muitos colégios privados, os chamados contratos de empresa existem de forma muito pouco expressiva. Não existem departamentos de investimento e criatividade, nem tão pouco de pesquisa e desenvolvimento curricular. Ao longo da minha vida visitei várias escolas, algumas no estrangeiro, e sempre me fascinou o investimento que algumas faziam e ainda fazem em estudar e propor novos desenvolvimentos curriculares, com departamentos próprios para esse efeito. Isto acontecia nas escolas e não sob orientação da tutela. Tal como uma empresa investe em pesquisa naquilo que é o seu core business.
Outro sinal é o pouco desenvolvimento pessoal e profissional existente, nem tanto nos professores, mas nas suas lideranças. Um líder educativo investe pouco na sua formação e no seu desenvolvimento profissional porque ‘já sabe tudo’ e porque não se quer expor. A grande maioria dos líderes educativos tem, apenas, formação superior e por vezes um mestrado em administração ou gestão escolar, e ponto final. É formação que está feita e ficou lá atrás. Aqui a aprendizagem ao longo da vida acontece, na maioria das vezes, em contexto informal. Os líderes educativos, que são antes de mais pessoas que têm de gerir um vasto leque de actividades, desde recrutamento, actividades de enriquecimento curricular, horários, currículo, normas e legislação, recursos humanos, parte financeira e administrativa, planos de Ensino à Distância (E@D), entre muitas outras determinações e tarefas. Qual CEO de topo! Em algumas empresas o investimento nos líderes é crucial no desenvolvimento das mesmas.
O relatório TALIS da OCDE de 2018 diz exactamente isso, ou seja, que as lideranças são determinantes para as organizações escolares, pois são elas que, cumprindo a legislação e demais normas e regras, fazem bom uso das mesmas para criar espaços de aprendizagem actualizados e inovadores, plenamente conseguidos, porque assentes em desenvolvimento eficaz, e relações e ligações duradouras, sustentáveis e felizes. São pessoas que contribuem activamente para a evolução da legislação, e demais regras e normas que facilitam a convivência e o processo de ensino aprendizagem. Ora, é muito pouco visível nas escolas, este investimento nos seus líderes. Ainda temos para nós que quem precisa ou frequenta algum tipo de formação ou parceria de desenvolvimento é porque está em déficit. Como podemos ver esta situação de outra forma? Onde está o investimento na liderança e nas suas várias vertentes, propriamente ditas? Em muitas empresas quando se pretende alcançar algum patamar e é conhecida a necessidade de desenvolver determinada competência, são procuradas soluções, concretamente, formação especifica, coaching e mentoring.
A visão de tal investimento é muito positiva, pois é visto como uma mais-valia para toda a organização. É também claro que não existe desenvolvimento profissional sem desenvolvimento pessoal. Quanto mais me conhecer a mim próprio, as minhas fragilidades e as minhas potencialidades, melhor vou saber onde tenho que investir em mim para conseguir desenvolver o que faz falta na minha empresa.
Habitualmente nas escolas, os líderes usufruem da formação dos professores. Nas empresas, a formação dos seus líderes é estratégica. Para a maioria das escolas a formação é, normalmente, investimento de baixo custo. Para as empresas, o desenvolvimento pessoal e profissional é valioso, porque é transformador. Com que lentes diferentes vemos este investimento na necessidade de termos melhores líderes educativos? Que vontade tem os directores de escolas e suas lideranças de investirem no seu próprio desenvolvimento, potenciando a sua performance? O que querem e com o quê se contentam? A exigência, a competitividade, o desenvolvimento, a unicidade e o fazer a diferença fazem parte do pacote entre muitas outras coisas, de se poder actuar como empresa.
O ponto de partida é a humildade das lideranças numa busca permanente de se conhecer melhor, fazer melhor e sobretudo de se superar a si próprio.