Hipertensão arterial: andamos sem diagnóstico e sem controlo?
Trata-se de uma “ameaça silenciosa” pois na maioria dos casos não provoca qualquer sintoma nos primeiros anos de evolução e as manifestações surgem apenas numa fase tardia em que já existem complicações. Nesta segunda-feira assinala-se o Dia Mundial de Hipertensão.
Quando a força com que o sangue circula no interior das artérias, se encontra persistentemente elevada, estamos perante a hipertensão arterial. Trata-se de uma doença crónica, muito prevalente em todo o mundo e estima-se que, em Portugal, existam mais de 40% de hipertensos. O que me preocupa é que, destes, uma parte significativa não estará diagnosticada e/ou controlada.
A hipertensão arterial chama-se primária ou essencial quando não está identificada uma causa para a elevação da pressão arterial e corresponde a cerca de 90% dos casos. Quando existe uma causa conhecida para a hipertensão arterial, esta designa-se de secundária. Existem múltiplas patologias que podem levar a hipertensão arterial, entre as quais: a síndrome da apneia do sono; doenças renais e doenças da tiróide. Nos casos de hipertensão arterial grave, resistente à medicação ou com início em idades jovens, essas patologias devem ser excluídas. Os principais factores de risco para o desenvolvimento de hipertensão arterial são: a história familiar, a idade, a raça negra, a obesidade, o consumo excessivo de álcool, o tabagismo, o consumo excessivo de sal, o sedentarismo e o stress. São muitos, não é? Mas, felizmente, alguns deles podem ser modificados.
Alerto que a hipertensão arterial está associada a maior risco de eventos cardiovasculares potencialmente fatais como o enfarte agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral, bem como a insuficiência cardíaca, doença renal crónica, disfunção eréctil e doença ocular com perda gradual da visão.
Trata-se de uma “ameaça silenciosa” pois na maioria dos casos não provoca qualquer sintoma nos primeiros anos de evolução e as manifestações surgem apenas numa fase tardia em que já existem complicações. Deste modo, é muito importante o rastreio da hipertensão arterial com avaliações regulares da pressão arterial.
“Mas, como e quando devo avaliar a pressão arterial?” O médico poderá avaliar a pressão arterial no contexto da consulta, no entanto, a automedição da pressão arterial em ambulatório acaba por ser mais fidedigna na avaliação do controlo da tensão arterial, até porque a pressão arterial tende a ser oscilante ao longo do dia e de acordo com as actividades exercidas pelo indivíduo. A pressão arterial deve ser avaliada em ambiente calmo, na posição sentada e após 5 minutos de descanso. A periodicidade das medições e o valor alvo da pressão arterial que queremos atingir é variável de doente para doente, de acordo com as suas patologias, idade e particularidades e devem ser determinadas pelo médico, caso a caso. Por vezes, é necessário realizar um exame que faz a medição ambulatória da pressão arterial durante 24 horas para caracterizar melhor o perfil tensional do doente e, assim, adaptar a terapêutica.
Na presença de uma pressão arterial elevada sem sintomas deverá ser marcada consulta com o médico assistente assim que possível. No caso de pressão arterial elevada na presença de sintomas como cefaleias, tonturas, alterações de visão, dor torácica, dificuldade respiratória, dificuldade em falar, falta de força ou desmaio, deverá ser procurada observação médica em contexto de urgência.
Prevenir e controlar a hipertensão arterial, está ao nosso alcance — e isto é uma boa notícia! A adopção de estilos de vida saudável é crucial, nomeadamente: dieta equilibrada (rica em legumes, fruta e fibra e pobre em gorduras saturadas); moderação do consumo de álcool; cessação tabágica; prática regular de exercício físico; controlo do peso e redução da ingestão de sal. Sabia que os portugueses consomem, em média, o dobro do sal recomendado pela Organização Mundial de Saúde? Para diminuir a ingestão de sal pode recorrer a algumas das dicas do Programa Menos Sal Portugal, uma parceria da CUF e do Pingo Doce.
O controlo da doença passa também pela correcta gestão da medicação. Os doentes hipertensos devem cumprir a terapêutica indicada pelo seu médico e devem ser avaliados de forma regular em consulta (pelo menos duas vezes por ano). O contexto pandémico em que vivemos e o consequente receio de contágio têm prejudicado a vigilância adequada do doente hipertenso, tendo-se verificado um número crescente de doentes com valores tensionais descontrolados. As unidades de saúde adaptaram-se à nova realidade com a criação de protocolos e circuitos seguros para profissionais e doentes, pelo que as consultas de vigilância não deverão ser adiadas.
O diagnóstico precoce e o controlo adequado da doença são fundamentais para evitar as complicações graves da hipertensão arterial.