Mark Bryan: “Roupas e sapatos não ditam o género ou a orientação sexual de ninguém”
Mark Bryan, engenheiro mecânico a viver na Alemanha, calça saltos altos e veste uma saia para ir trabalhar, todos os dias. Aos 61 anos, quer mostrar que a roupa não tem género e que em nada se relaciona à orientação sexual.
Mark Bryan não quis tornar-se influencer, não está especialmente interessado em moda. É um homem casado, pai de três filhos, e vive numa pequena cidade alemã, onde trabalha como engenheiro mecânico. Não teria nada que o distinguisse, não fosse o seu guarda-roupa. Todos os dias veste uma saia e calça saltos altos, combinando-os com a camisa e gravata, porque gosta e se sente confortável.
Em Outubro de 2020, Mark tornou pública a sua página de Instagram, onde partilha todos os dias a roupa que escolhe - e agitou a Internet. Em poucos meses, o número de seguidores disparou, de 200 para 200 mil. Em Abril de 2021 duplicaram e são já mais de 400 mil. Em cada fotografia publicada, a mensagem é clara: “Roupas e sapatos não ditam o género ou a orientação sexual de ninguém”.
“Estou aqui para dizer que qualquer pessoa pode usar o que quiser, deveríamos ser livres para vestir aquilo com que nos sentimos mais confortáveis”, defende, em entrevista à agência Ruptly. “Só porque um homem veste uma saia não significa que é gay, não tem nada a ver com orientação sexual.”
A primeira vez que calçou uns sapatos de saltos altos, fê-lo por brincadeira; pertenciam à namorada da altura e tinha 20 anos. Contudo, só três décadas depois, já perto dos 60 anos, voltaria a ouvir, a cada passo, o bater dos próprios tacões.
Preparava-se, com a mulher, para uma festa onde o dress code eram vestidos formais quando decidiu que iria como uma “criatura de um conto de fadas”, como explicou à Vogue, e usaria saltos altos. “Todos na festa me disseram que me ficavam bem e admiraram-se com a minha facilidade em andar de saltos. Foi quando percebi que gostava de me vestir assim.”
O engenheiro norte-americano começou por usar saltos mais baixos, até se habituar e subir a saltos altos e de tacões finos. “Os meus colegas de trabalho desafiaram-me também a usar saias, foi uma piada durante seis meses – até eu finalmente chegar ao trabalho de saia. Ninguém ficou verdadeiramente surpreendido. Ninguém se comportou de forma diferente comigo. Sou a mesma pessoa, independentemente do que visto”, contou, citado pela Vogue.
Entre a engenharia robótica e as sessões fotográficas cada vez mais frequentes, o mais provável será encontrar Mark Bryan, de 61 anos, na garagem de casa a cuidar do seu Porsche 911 de 1967 ou num relvado a treinar futebol americano.
“Na minha idade, já não quero saber daquilo que outras pessoas pensam de mim. Provavelmente nunca mais as voltarei a ver. Mas não acontece muito ver outros a apontarem para mim ou a rirem-se, a maioria ignora-me”, disse à Vogue. “Não vejo nada de errado na forma como me visto. Não acho que esteja a quebrar as regras. Eu sinto-me livre para fazer o que quero – e isso dá-me a auto-confiança que impede os outros de me atacarem.”