Quando faltam azulejos nas fachadas, Joana reinventa-os para cobrir o espaço em branco

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Joana anda sempre com uma fita métrica no bolso; nunca se sabe quando vai olhar para o lado e encontrar uma fachada sem alguns azulejos. Foi assim mesmo, da "observação quotidiana", que nasceu o projecto Preencher Vazios — inicialmente para a tese de mestrado de Joana de Abreu, em Arte e Design para o Espaço Público, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, mas agora a sua ocupação a tempo inteiro. A artista de 28 anos, natural de Valongo mas a morar no Porto, percorre e deixa a sua marca na cidade através da criação de "azulejos" de madeira com uma frase neles inscrita.

"Quando saio à procura, nunca encontro nada", ri. Mas, fortuitamente, encontra fachadas com "azulejo típico, com padrão" — um requisito para a intervenção — e um espaço em branco mesmo à espera da sua "intervenção efémera": "Gosto de ver o que o tempo faz à intervenção", refere, antes de explicar que, por culpa do tempo ou "das pessoas que vão ver como é feito e acabam por rasgar o papel", elas acabam por se desgastar. Mas é mesmo essa a ideia deste trabalho, que é feito "por iniciativa própria e sem financiamento". O que lhe traz retorno são os "azulejos" que faz por encomenda. 

A propósito do 25 de Abril, fez uma intervenção na Rua Barão de São Cosme, no Porto. Utilizou o poema 25 de Abril, de Sophia de Mello Breyner Andresen, e adaptou o padrão original da fachada com as cores da bandeira portuguesa. É habitual alterar as cores para "criar um contraste visível entre o antigo e o novo". E para chamar a atenção. Afinal, com este projecto, quer também que "o proprietário ou alguma entidade se debata sobre este problema e actue". Para recuperar a cidade.