Marcelo pede aos jovens que liderem a contestação e transformem os partidos
“Construir Abril hoje, esse é o vosso papel”, defendeu o Presidente da República.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pediu aos jovens que participem na melhoria da democracia e do desenvolvimento conquistados com o 25 de Abril, que liderem a contestação e transformem os partidos.
“Construir Abril hoje, esse é o vosso papel”, defendeu, numa intervenção em que rebateu a ideia de que “a ditadura tinha vantagem relativamente a alguns pontos fracos da democracia dos nossos dias”, lembrando “os indicadores educativos, sanitários e sociais” do tempo da ditadura.
Marcelo Rebelo de Sousa deixou estas mensagens durante uma iniciativa que juntou quatro Capitães de Abril e jovens de vários sectores de actividade, incluindo militares e elementos das forças de segurança, à conversa no antigo picadeiro do Palácio de Belém, em Lisboa, durante mais de cinco horas.
A meio do encontro, o chefe de Estado, os coronéis Vasco Lourenço, que preside à Associação 25 de Abril, Nuno Santos Silva e António Rosado da Luz e o almirante Martins Guerreiro e os jovens dirigiram-se para uma varanda do palácio para cantarem a “Grândola, Vila Morena” e o hino nacional, pelas 18h.
“O objectivo é cantar solidariamente. No ano passado eu tinha cantado à janela. É uma óptima iniciativa. Há várias maneiras de manter viva a mensagem de Abril, esta é uma”, declarou o Presidente da República.
Depois, o encontro foi retomado, com perguntas dos jovens e respostas dos Capitães de Abril, e no final Marcelo Rebelo de Sousa tomou a palavra uma vez mais neste 25 de Abril.
Dirigindo-se aos jovens, o Presidente da República disse-lhes que o seu papel é “liderar a contestação, liderar a crítica, liderar os movimentos de mudança” e que, se não se sentem representados pelos políticos, “é muito simples, substituam os políticos, esses políticos”.
“Todos somos políticos. A solução está em participar”, sustentou.
Marcelo Rebelo de Sousa referiu que isso pode passar por “criarem movimentos, organizações não-governamentais (ONG), criarem associações, criarem partidos ou transformarem os partidos existentes”.
“O que não é solução é afastarem-se”, acrescentou o chefe de Estado, observando que “há imensa coisa para mudar” e que “só as ditaduras é que acham que são perfeitas e que estão completas”.
Num discurso que durou perto de 40 minutos, o Presidente da República contou que antes do 25 de Abril teve acesso à ficha da PIDE de um colóquio em que participou quando o seu pai, Baltazar Rebelo de Sousa, era ministro do Estado Novo.
“O relatório dizia assim: o fulano tal, energúmeno perigoso radical, filho de sua excelência o ministro das Corporações, Providência Social, Saúde e Assistência. Portanto, o meu pai era sua excelência e eu era energúmeno”, relatou.
Pela segunda vez neste 25 de Abril, Marcelo Rebelo de Sousa invocou a sua condição de filho de governante no Estado Novo. De manhã, na sessão solene na Assembleia da República, foi para falar da memória histórica do passado colonial. Ao fim do dia, para contestar quem sustenta que se vivia melhor no tempo da ditadura.
Segundo o chefe de Estado, “há que responder com a realidade” a essa ideia, e basta “recordar a taxa de mortalidade infantil, a inexistência de centros de saúde até às vésperas do 25 de Abril, o número de estudantes que chegavam à universidade”, para não falar “dos indicadores políticos, esses são óbvios”.
“Isto são factos, são dados, quantitativos, reais, que é preciso recordar de vez em quando, e eu sinto-me muito à vontade, tenho uma autoridade moral dupla para o recordar por ter sido privilegiado e ter podido conhecer a realidade anterior ao 25 de Abril de dentro”, considerou.