Coronavírus
Covidário, a homenagem de Mag Rodrigues aos profissionais de saúde
Covidário é o mais recente projecto da fotógrafa e enfermeira Mag Rodrigues. Cátia, Inês, Mariana, Beatriz e Paulo dão a cara pelos milhares de profissionais de saúde no combate à pandemia.
Os fatos que os tapam da cabeça aos pés e “fazem mais barulho a caminhar do que qualquer conversa”, os dois pares de luvas tapam-lhes as mãos e apertam as veias, a máscara e a viseira protegem-lhes o rosto, ao mesmo tempo em que lhes embaciam o olhar. Nas imagens estão retratados cinco profissionais de saúde do Hospital Lusíadas que representam os milhares que, há um ano, estão na linha da frente no combate à pandemia de covid-19. Invade-nos a curiosidade de saber quem são, como serão os rostos de Cátia, Inês, Mariana, Beatriz e Paulo que a câmara captou. Mas, principalmente, invade-nos a questão: como é trabalhar num hospital durante a pandemia?
A mesma dúvida colocava a fotógrafa e enfermeira Magda Rodrigues — ou Mag Rodrigues, como é conhecida no Instagram — que em Abril de 2020 deu início ao processo fotográfico Covidário, descrito como uma homenagem a todos os que desempenham este trabalho. “Pensei que isto não podia deixar de estar registado. É uma mudança mundial e que está expressa através do fardamento dos profissionais de saúde e que revela o que se está a passar”, começa por explicar ao P3.
Na pequena sala destinada ao fardamento, estava o medo, a ansiedade, o pânico e uma câmara fotográfica. A luz da pequena cirurgia foi o essencial para que Mag Rodrigues conseguisse “cristalizar o momento” e atingir uma estética que lhe agradasse, longe da frieza de uma ala de internamento. “No início, a escassez de material para nós nos fardarmos, obrigava a que entrasse só uma pessoa para a zona do covidário, só um enfermeiro ou enfermeira, e isso marcou-me porque era um ambiente de grande stress e, depois, também muito solitário. Não havia escolha, tínhamos de ir, com medo e sozinhos.”
São os protagonistas de uma “batalha muitas vezes inglória” e sem escolha. A aura negra que tanto espelha o ambiente como enaltece e destaca o profissional de saúde que leva “um bocadinho de segurança e de saúde” no meio do caos foi o resultado final. Apertar batas, colocar viseiras, zaragatoas na mão ou transportar garrafas de oxigénio num tempo onde tudo é uma questão de oxigénio são alguns dos gestos que fazem há um ano, sem nunca olhar para o relógio. Mas o pior, destaca Beatriz, “é a distância, que os separa de cada doente”: “Quando até um toque parece distante por causa das luvas. Quando nem um sorriso vale a pena porque ninguém o vê.”
Um ano depois, o desconhecimento inicial foi-se diluindo para dar lugar “a um espírito do tem que ser”, conclui Mag. “Trabalhar neste contexto foi muitas vezes fechar um bocadinho os olhos ao panorama real, no sentido de não poder deixar que isso me assolasse e me toldasse os movimentos e prosseguir, prosseguir sempre, porque não há outra hipótese.”
Texto editado por Ana Maria Henriques