Pandemia e educação: reagimos ou agimos estrategicamente?
Qual é a cultura educativa que é necessária neste momento? É a resposta a esta pergunta que deve mobilizar os decisores políticos para ser o alicerce da construção do novo modelo educativo.
Este regresso à escola, que mais uma vez, está a ser pouco pensado e reflectido, pelo menos que seja do conhecimento geral, traz consigo sentimentos ambíguos pois, se por um lado, a satisfação de voltarmos todos à escola é enorme, ansiada, necessária, benéfica e mais todos os adjectivos positivos que queiram aqui associar, por outro lado, vai continuar a expor as diferenças e desigualdades sociais, do ponto de vista dos desníveis de acesso às aulas neste período de confinamento e como consequência, de aquisição das aprendizagens.
A minha pergunta é muito simples: ainda estamos a reagir à pandemia e a encontrar respostas rápidas para colmatar situações gritantes, ou estamos a preparar uma nova visão estratégica de educação? Depois do luto do ensino presencial, nunca feito, aliás, da adaptação à mudança de ficar em casa a fazer de tudo um pouco, nem férias, nem aulas; como estamos a pensar na fusão dos dois contextos e construir uma nova cultura educativa? Quais tem que ser os pressupostos desta nova cultura educativa? O que é que pode ser pedido, humanamente falando, a alunos e professores, considerando cada faixa etária? O que é necessário, urgente, mas mais do que isso, o que é prioritário?
Qual é a cultura educativa que é necessária neste momento? É a resposta a esta pergunta que deve mobilizar os decisores políticos para ser o alicerce da construção do novo modelo educativo. Não vamos voltar ao velho ensino, não vamos considerar os velhos planos. Qualquer novo plano terá que contemplar saúde mental, saúde física, socialização e desenvolvimento humano.
Lembro-me de dizer aos pais de alunos novos no colégio, que manifestavam receio na adaptação à exigência académica, que primeiro permitissem que os filhos fizessem a sua adaptação à escola, aos amigos e colegas, aos professores, às regras de convivência, e depois então desse período de adaptação considerassem a exigência académica.
Também me recordo de situações em que eram feitos testes de aptidões diversas para admissão ao colégio, e de termos alunos muito inteligentes com uma deficiente prestação académica, porque nunca se conseguiram adaptar, fazer amigos, socializar saudavelmente, sentirem-se ‘em casa’, como habitualmente dizemos. Todos sabemos que o mesmo acontece no mundo do trabalho, quando não estamos bem de modo integral, pleno, será muito difícil desenvolvermos todo o nosso potencial.
Só conseguimos ter a visão geral actual e fazer o enquadramento de futuro se nos afastarmos para reflectir e não perdermos o contacto com as linhas da frente, a todo o tempo.
Quais são as novas questões que a escola vai ter para abordar? Quais são as novas necessidades das famílias e dos alunos? Qual vai ser o seu novo propósito dentro da missão obrigatoriamente renovada e actualizada? Que líderes aceitam e serão capazes de ser protagonistas desta mudança?
Há sem dúvida muito a fazer na educação por estes dias, em termos de ouvir quem está ‘com as mãos na massa’, planificar, gerir riscos, encontrar recursos, fortalecer os recursos humanos, gerir novos investimentos, e que não sejam só computadores, estabelecer metas e tomar decisões.
O que precisamos como novo modelo educativo? Estávamos no início da flexibilidade curricular quando fomos apanhados por este terramoto. Esses planos foram-se com a pandemia. Ao que parece vamos ter um ano escolar semelhante ao do ano passado quando fomos apanhados no turbilhão, voltando a por em evidência as desigualdades sociais, desníveis académicos e a liberdade de educação. Mas temos que encontrar o que está a fazer falta e vai fazer falta aos nossos, alunos, professores, famílias e demais agentes educativos, para conseguirmos encontrar respostas exequíveis e capazes de fazer progredir.
O modo como formos capazes de responder agora, em termos educativos, vai comprometer o futuro da produtividade e da cultura do nosso país. É urgente fazer diferente e melhor. Haja coragem!