A primeira comunidade energética do Porto vai nascer na Asprela

O “Asprela + Sustentável” apresenta-se como um “laboratório vivo” que quer contribuir para a descarbonização da cidade, promovendo questões como mobilidade eléctrica sustentável, combate à pobreza energética, incentivo ao consumo de energias limpas e a economia circular. O projecto tem um financiamento de um milhão de euros.

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O programa "Asprela + Sustentável" integra o futuro Parque Central da Asprela, actualmente em construção Tiago Lopes

Ainda a dar os primeiros passos em Portugal, o modelo de microprodução de electricidade para autoconsumo colectivo vai ser ensaiado através da criação da primeira Comunidade de Energia Renovável (CER) do Porto, entre as habitações de mais de 180 famílias do Bairro da Agra do Amial e a Escola Básica da Agra, em Paranhos. A iniciativa, que pressupõe a instalação de dois sistemas fotovoltaicos, um em cada local, tem como objectivo fornecer energia eléctrica aos edifícios onde se alojam, sendo que a energia excedente servirá os sistemas de armazenamento de energia eléctrica e carregamento de veículos eléctricos de utilização pública. Esta é apenas uma das propostas do “Asprela + Sustentável”, projecto aprovado no âmbito do programa “Ambiente, Alterações Climáticas e Economia de Baixo Carbono”, promovido pelo EEA Grants, que quer auxiliar a cidade a combater as alterações climáticas e conduzi-la à neutralidade carbónica que se comprometeu alcançar até 2050.

“Este é um projecto criativo, inovador e abrangente, que demonstra bem a ambição do Porto em participar activamente na transição energética e na descarbonização da cidade e da região”, reconhece Filipe Araújo, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP) e vereador com o pelouro do ambiente, citado em comunicado no site da autarquia. O “Asprela + Sustentável” tem consórcio do Coopérnico - Cooperativa de Desenvolvimento Sustentável C.R.L e coordenação técnica da Agência de Energia do Porto (AdEPorto), que está em articulação directa com o município e conta com diversos parceiros tecnológicos que vão da indústria à academia.

O envolvimento da comunidade

Descrito como um “laboratório vivo”, o projecto vai ser desenvolvido na zona da Asprela uma vez que, além de registar um movimento diário de cerca de 60 mil pessoas, entre “estudantes, investigadores, docentes universitários, médicos, enfermeiros e profissionais ligados à tecnologia e inovação”, é ali que se concentra “90% do conhecimento gerado na cidade e 20% do originado ao nível nacional”, elaboram os promotores do projecto em comunicado de imprensa. Além de montar a primeira comunidade energética da cidade, o “Asprela + Sustentável” vai testar baterias second life para promover o “máximo aproveitamento da energia eléctrica de base solar de forma local, permitindo gerar ganhos para todos os utilizadores”. 

O pacote de medidas abrange, também, o combate à pobreza energética, numa fase inicial por meio do levantamento de dados sobre esta realidade, e a participação da comunidade na gestão e monitorização da central fotovoltaica, em particular na EB1 da Agra, onde será colocado um sistema gamificado [com recurso a mecânicas e dinâmicas de jogos que propiciam o engajamento] para o efeito. O envolvimento da população será integrado, também, no Reboot, programa de reciclagem e partilha de computadores destinado a reparar equipamentos electrónicos e, simultaneamente, a formar os participantes nesta área. Os computadores serão, posteriormente, doados a crianças de famílias carenciadas.

Sustentabilidade da água à comida

A transversalidade do projecto verifica-se, por exemplo, na linha programática dedicada ao ciclo da água, que prevê a “monitorização e controlo da água das ribeiras do futuro Parque Central da Asprela, actualmente em construção, trabalho que possibilitará “a adaptação da bacia hidrográfica face aos efeitos das alterações climáticas já esperadas”, diz o município. Adicionalmente, a comunidade terá acesso a informações, experiências e alimentos mais sustentáveis, através da iniciativa “Good Food Hubs”. Serão instalados, ainda, bebedouros na envolvente nos circuitos de actividade física e recreativas da Asprela, com vista a contribuir para “hábitos saudáveis de boa hidratação e a prática de actividade física”.

O “Asprela + Sustentável” conta com um investimento de um milhão de euros e tem um prazo de execução de três anos. Para acompanhar o processo, será criada a plataforma Hub Virtual “Asprela +++”, que reunirá “dados sobre os impactos conseguidos com as medidas implementadas”, por exemplo relativos à emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE) nos transportes e na habitação, e sobre a evolução da qualidade do ar e da água. A informação deverá ser, depois, partilhada com os decisores políticos e a população.

Nos últimos anos, o município do Porto tem aprovado várias medidas para atingir uma maior sustentabilidade energética, de que são exemplo o consumo de energia eléctrica renovável em todas as infra-estruturas municipais, a promoção da eficiência energética em 11 bairros do parque habitacional municipal ou a abastecimento da frota da STCP com electricidade 100% renovável, entre outras.

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