Livraria portuense Poetria recusa abandonar as Galerias Lumière em plena pandemia

Empresa proprietária quer vender o edifício para a construção de um hotel e notificou a livraria para abandonar o espaço até ao final deste mês.

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Os proprietários da livraria Poetria, localizada nas Galerias Lumière, no centro do Porto, foram notificados para abandonar aquele espaço até dia 31 de Março, mas recusam-se a sair em tempos de pandemia.

Em declarações à agência Lusa, Francisco Reis, um dos donos da Poetria, uma livraria exclusivamente dedicada à poesia e ao teatro, explica que num contexto de pandemia e de estado de emergência é “impossível a loja sair das Galerias Lumière”. A empresa proprietária das galerias pretende vendê-las para a construção de um hotel.

“Não vamos sair no dia 31 de Março. Sair agora é impossível, com o estado de emergência e depois de meses fechados e sem facturar”, declara Francisco Reis, lembrando que só reabriram há uma semana, no âmbito da primeira fase de desconfinamento, e que tem estado a receber uma média de cinco clientes por dia.

Com a vitrina virada para a Rua das Oliveiras, bem no coração da cidade do Porto, junto à Praça Carlos Alberto, o livreiro explica que, no entender do proprietário, o contrato termina no final deste mês, ao passo que ele e o seu sócio, Nuno Pereira, defendem que este se estende por mais quatro anos, até 2025.

“O nosso grande objectivo é fazer parte das Galerias Lumière com qualquer que seja o próximo projecto [mesmo que seja uma unidade hoteleira]. Isso era ouro sobre azul”, diz Francisco Reis, observando que é “muito difícil” encontrar um novo espaço próximo do centro da cidade e sem “perder a essência da Poetria”, uma livraria que tem “sinergias” com a Universidade do Porto e com restaurantes, hotéis e bares do bairro em que se insere, designadamente através da realização de saraus de poesia.

“Estamos a ponderar a nossa existência noutro sítio e a calcular custos num outro hipotético espaço perto deste local”, acrescentou Francisco Reis. Contudo, sublinha, é quase impossível saírem sem terem apoios.

As Galerias Lumière receberam, em Maio de 2020, um parecer favorável da Câmara Municipal do Porto ao pedido de informação prévia (PIP) para uma unidade hoteleira, adiantou esta sexta-feira à Lusa fonte da autarquia. “O PIP [pedido de informação prévia] já recebeu informação favorável. O projecto foi alterado, dando resposta adequada às questões que tinham sido colocadas anteriormente pela câmara, mantendo assim uma galeria comercial, de ligação entre os dois arruamentos, ao nível do piso térreo”, lê-se numa resposta, por escrito, da Câmara do Porto.

A 14 de Maio de 2020, a Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN) emitiu parecer favorável condicionado ao PIP para instalação de um hotel nas Galerias Lumière, que obteve, em Janeiro, uma apreciação desfavorável da autarquia.

Construídas nos anos 70 a partir de um projecto do arquitecto Magalhães Carneiro, as Galerias Lumière são compostas por dois andares com várias lojas, tendo uma área central que funciona como praça da alimentação e que é uma espécie de sala de estar, hoje decorada com peças de mobiliário escandinavo retro e iluminada por uma clarabóia.

O espaço teve o seu apogeu nos anos 80, com duas salas de cinema inauguradas em 1978 e que se chamavam “A” e “L” em homenagem a Auguste e Louis Lumière, os dois irmãos franceses ligados à história do cinema mundial, mas que vieram a encerrar em 1997.

Em 2012 e 2013, a empresa proprietária das Galerias, a Imocpcis SA, dedicada a empreendimentos imobiliários, deu início a obras de restauro e de revitalização das lojas e da zona central, e em 2014 as Galerias reabriram ao público.