Popularidade de Bolsonaro afunda-se à medida que a pandemia se agrava no Brasil

O momento mais dramático desde o início da pandemia da covid-19 no Brasil coincide com a perda do apoio popular por parte do Presidente.

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Apesar de ser responsabilizado pela má gestão da pandemia, Bolsonaro é melhor avaliado no panorama geral da governação UESLEI MARCELINO / Reuters

O agravamento da pandemia do SARS-CoV-2 no Brasil está a corroer o apoio popular do Presidente Jair Bolsonaro, apontado por grande parte da sociedade como o principal responsável pelo colapso generalizado dos sistemas de saúde em todo o país.

A maioria dos brasileiros (54%) considera a actuação de Bolsonaro na gestão da pandemia como má ou péssima, de acordo com uma sondagem publicada pelo Instituto Datafolha esta quarta-feira, o que representa um recorde desde Março de 2020. A subida da desaprovação de Bolsonaro solidifica uma tendência que se verificava desde o final do ano passado – subiu mais de dez pontos desde Dezembro.

A crise sanitária também está a ter repercussões sobre a base de apoio do Presidente que havia mantido alguma estabilidade em torno dos 30% mesmo durante os meses mais duros do ano passado. Agora apenas 22% dos inquiridos avaliam Bolsonaro com bom ou óptimo.

No entanto, quando é avaliado no panorama geral das suas acções, Bolsonaro mantém o apoio de 30% dos eleitores, mostrando que a grave situação vivida pelo país em termos sanitários não afasta totalmente esse sector da população. A desaprovação de Bolsonaro tem uma queda acentuada (44%) quando é avaliado o contexto geral da governação.

O momento actual combina vários factores que prejudicam a imagem de Bolsonaro perante os brasileiros. Para além do agravamento de todos os indicadores sobre a pandemia, a interrupção do pagamento do auxílio emergencial – um subsídio que beneficiou milhões de famílias pobres que perderam rendimentos na pandemia – e a baixa progressão da vacinação contribuem para o juízo captado pela sondagem. Bolsonaro é apontado genericamente como o principal responsável pela gestão da pandemia e, consequentemente, é visto como o culpado pela subida acelerada de mortos e infectados.

“De um modo geral, a percepção é de descontrolo na gestão da crise pelo Governo federal, diante do avanço lento da campanha de vacinação”, escrevem o director-geral do Datafolha, Mauro Paulino, e o director de pesquisas, Alessandro Janoni, numa análise publicada pela Folha de S.Paulo. A sondagem foi realizada nos dias 15 e 16 de Março e inquiriu por telefone 2023 pessoas.

A reposição do auxílio emergencial – que já recebeu luz verde do Congresso – pode ser um elemento importante para a reversão da tendência de penalização do apoio público de Bolsonaro. No ano passado, a composição da base social de apoiantes do Presidente alterou-se em virtude dos efeitos desse subsídio – aumentou o apoio entre eleitores das classes mais baixas, que em alguns casos até viram os seus rendimentos aumentar face ao período anterior à pandemia, enquanto diminuiu o apoio entre os mais ricos.

No entanto, à partida, o valor da nova versão deste subsídio será mais baixo do que anteriormente, o que poderá não ser suficiente para renovar o impulso à sua popularidade que o Presidente procura.

O Governo espera também beneficiar de alguma margem de manobra após a mudança à frente do Ministério da Saúde, embora o novo ministro, o cardiologista Marcelo Queiroga, já tenha dito que o rumo no combate à pandemia deverá ser mantido.

O Brasil atravessa o período mais dramático da pandemia da covid-19. Na terça-feira foram registados 2798 óbitos, o valor mais elevado desde o início da crise, e há já 55 dias consecutivas que a média móvel diária de mortes está acima dos mil. Com os hospitais sem capacidade de resposta em praticamente todas as capitais estaduais, é difícil prever quando é que a situação irá aliviar. Ao todo, a covid-19 causou a morte a mais de 282 mil brasileiros.

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