A dignidade humana que protege a personalidade humana é decomposta em quatro vertentes: valor intrínseco do ser humano, a autonomia, o mínimo existencial e, por fim, o reconhecimento. Todos nós procuramos ser reconhecidos. Este reconhecimento é mais conhecido como fama. É, portanto, uma característica do ser humano, já que somos seres sociais; o reconhecimento está associado à valorização da pessoa.
Recentemente assisti ao documentário da HBO chamado Fake Famous. Actualmente, nos Estados Unidos da América, quando se pergunta aos jovens o que querem ser quando crescerem, a resposta é: ser famoso. Este ser famoso, na realidade, corresponde a terem milhares de seguidores nas redes sociais, mais concretamente no Instagram, e viverem uma vida de luxo, com produtos e viagens grátis. A questão é: quem é que não quer isso? Ter uma vida de ócio, aventura, viagens e qualidade de vida. Conseguiremos preencher a dignidade humana assim. Logo, aparentemente, é o sonho de qualquer um.
Não obstante, o realizador do documentário pergunta: será que isto é uma verdadeira fama? É uma fama baseada em números: número de seguidores, número de “gostos” e número de comentários.
O documentário desenrola-se em torno de uma experiência social que consiste em transformar três pessoas com uma vida normal em influencers. Para tal, para cada uma destas pessoas foram adquiridos pacotes de seguidores falsos, gostos falsos e comentários falsos, para que a sua rede de seguidores aumentasse. Foram realizadas sessões fotográficas em spas e ginásios falsos, arrendada uma casa de luxo e um avião privado falso. Tudo para que, aparentemente, estas pessoas tivessem a oportunidade de mostrar que tinham uma vida invejável. Contudo, era tudo uma farsa.
O objectivo único foi promover, através da compra de seguidores, gostos e comentários, a visibilidade destas três pessoas, e que no final acabassem por granjear pessoas reais como verdadeiros seguidores.
Este documentário evidencia os dois lados: as empresas e os influencers. Por um lado, as empresas com o intuito de promover os seus produtos utilizam os influencers como os novos “anúncios de televisão”, uma nova forma de marketing. E, assim, contactam os influencers mais “famosos”, com uma rede de seguidores exponenciais. E, lá está: o produto somos todos nós.
No reverso da moeda estão os influencers, que pretendem ganhar a vida à conta destas empresas que lhes enviam produtos grátis, viagens pagas e são ressarcidos com milhares de euros por cada publicação feita. Mas, para que estas pessoas cativem as empresas, têm de alargar a sua rede; e muitas vezes fazem-no recorrendo a perfis, gostos e comentários falsos que compram através de aplicações.
O realizador deste documentário empreendeu, com estas três pessoas, uma vida normal e tentou transformá-las em famosos. No entanto, só uma das três pessoas concluiu a experiência e almejou, efectivamente, transformar-se em influencer. Os restantes dois acabaram por desistir, não conseguiram lidar com o mundo de ilusão em que viviam. A ansiedade e a falsidade de toda a experiência acabaram por demovê-los da tentativa de se tornarem famosos.
A única sobrevivente constatou a diferença: ao aumentar o seu número de seguidores, as pessoas alteraram a conduta e o trato com a mesma. Conseguiu obter mais entrevistas de emprego e audiências. Esta aparente fama catapultou-a para um verdadeiro reconhecimento. Reconhecimento esse que lhe é inerente por ser um verdadeiro ser humano, e não devido a números numa rede social.
O realizador conclui, no final, até que ponto o que os influencers fazem é real e autêntico. No final do dia, não nos fazem sentir melhor connosco mesmos. Todo este conceito serve para nos fazer sentir pior. Olhar para a sua vida de luxo e riqueza, mesmo que seja tudo falso, na realidade.
Chega, assim, à conclusão, que isto não é fama e não há uma admiração por um motivo específico, eles apenas são vendedores de produtos e pagos por empresas multimilionárias. Mas acaba por mudar a percepção que as pessoas têm destas pessoas, achando-as famosas e, por isso, querem ser como elas no futuro. O que é mais triste é que um número virtualmente acabe por transformar o comportamento das pessoas e a atitude que temos com elas na vida real.