Árctico
Vorkuta, a cidade russa engolida pela neve
A neve que cobre a cidade vazia esconde um passado de prosperidade. O minério transformou-a numa das cidades mais cobiçadas da Rússia. A queda do regime soviético e as baixas temperaturas, na mais indiferente.
Nas imagens, a neve que cobre os camiões parados num parque de estacionamento prolonga-se até aos decrépitos e coloridos edifícios, trepa varandas, fixa-se nas caixilharias das janelas, sobe as escadas e entra nos quartos e salas onde já viveram famílias. A neve e o gelo cobrem tectos, paredes, candeeiros, móveis e sofás. De acordo com a Getty Images, este é um cenário que se repete desde 2013. Vorkuta, situada na República de Komi, na Rússia, é uma cidade fantasma que, em 30 anos, perdeu 35 mil habitantes.
Em Julho, no pico do Verão, a população desconhece temperaturas além dos 17 graus e no Inverno, que começa a dar sinais em Outubro, os termómetros chegam aos 50 graus negativos.
À noite, as poucas luzes acesas no interior das casas põem a descoberto as 70 mil pessoas que resistem em abandonar a zona. Localizada a quase 145 quilómetros do Círculo Polar Árctico, a vida nesta longínqua cidade nunca foi fácil. Mas se disséssemos que o clima extremo não impediu que fosse uma das zonas mais prósperas de Komi, a reacção seria de surpresa.
Já foi a morada de 73 mil presos políticos residentes no campo de Vorkutlag e, na década de 50, a indústria do carvão, o ex-libris da cidade, empregava pessoas vindas de todos os pontos do país e do mundo. Com a queda do regime soviético, a economia russa ressentiu-se e o desemprego disparou. Fábricas, escolas, cinemas, teatros, hospitais e outros serviços públicos fecharam. Milhares de famílias foram obrigadas a abandonar as suas casas e as que não o fizeram durante um período de dois anos ficaram sem gás e electricidade. Segundo o The World, Vorkuta já foi a “capital do mundo”, hoje é uma cidade praticamente abandonada.
Texto editado por Ana Maria Henriques