Causas
Najin e Fatu são os dois últimos rinocerontes-brancos-do-norte
"As meninas", como são carinhosamente conhecidas no santuário onde vivem, no Quénia, são mãe e filha e as últimas da sua espécie. Jack Davidson fotografou-as, a pedido do The New York Times, e editou o livro Ol Pejeta, cuja receita das vendas será parcialmente canalizada para a preservação desta espécie.
São mãe e filha e os últimos rinocerontes-brancos-do-norte. Najin e Fatu vivem num dos maiores santuários para rinocerontes do mundo, o Ol Pejeta Conservancy, no Quénia, onde são cuidadas por Zacharia, o seu devoto tratador, e carinhosamente conhecidas por todos como "as meninas".
A filha e a neta de Sudan, o último rinoceronte-branco-do-norte macho que morreu em 2018, uma superestrela da vida selvagem pelos piores motivos, nasceram e cresceram na República Checa num ambiente totalmente controlado, rodeadas de pessoas, sem qualquer ideia do que significa viverem no seu habitat natural. São, por isso, especialmente meigas e sociáveis, atesta o jornalista Sam Anderson que foi, na companhia do autor destas imagens, Jack Davison, a pedido do The New York Times, em Janeiro de 2021, até ao Quénia com o objectivo de conhecê-las.
As "meninas", hoje com 32 e 19 anos, chegaram ao santuário em 2009. E, nessa altura, tinham medo de tudo. Assustavam-se com os movimentos de outros animais, sobressaltavam-se ao menor ruído. Hoje, já ambientadas, vivem uma espécie de vida selvagem supervisionada. As suas manhãs começam com uma escovagem rigorosa. Najin, a mais velha e mais meiga, gosta especialmente desta forma de despertar — posiciona o seu volumoso corpo de forma a facilitar ao tratador o acesso a todos os recantos. Depois disso, ambas são libertadas na área do parque, onde passam o dia a fazer aquilo que um rinoceronte faz: chafurdar na lama, afiar os chifres, esfregar o corpo contra troncos de madeira e a comer, comer e comer grandes quantidades de erva. São muito relaxadas e raramente atacam humanos ou outros animais. Um rinoceronte-branco pode matar, mas irá, sempre que possível, preferir não o fazer.
As "meninas" são famosas no circuito dos safaris da região — não tanto como Sudan foi outrora —, mas encontram-se protegidas da caça furtiva pelas vedações do parque e por constante monitorização. A ligação de Najin e Fatu é especial, afinal são mãe e filha e as suas únicas companheiras de espécie, algo raro, mas cada vez mais frequente no século XXI, devido a acção humana. Ironicamente, a mesma que destrói espécies recorre à ciência para conservá-las.
Esforços no sentido da reprodução e salvamento dos rinocerontes-brancos-do-norte têm sido realizados em Ol Pejeta. As "meninas" aguardam, pacientemente, por novos companheiros que resultarão de fertilização in-vitro do material genético de Sudan, que foi recolhido pelos funcionários do santuário antes do seu falecimento, dos óvulos de Najin e de uma barriga de aluguer da espécie rinoceronte-branco-do-sul. A pandemia de covid-19, no entanto, tem atrasado essa empreitada.
As fotografias de Jack Davison retratam o terno laço que existe entre Najin e Fatu, de forma isolada, e o que mantêm com o seu tratador, Zacharia. Parte da receita das vendas do livro editado pela Loose Joints Publishing, intitulado Ol Pejeta, será canalizada para a preservação desta espécie.