Mulher atingida por bala de borracha perde o olho durante manifestação em Barcelona
Disparo terá sido feito pela polícia catalã. Esta quarta-feira foi marcada por manifestações em várias cidades da Catalunha.
Uma mulher perdeu um olho na sequência de ferimentos provocados por uma bala de borracha, durante distúrbios em Barcelona esta quarta-feira, numa manifestação que pedia a libertação do rapper Pablo Hasél: o artista foi detido na terça-feira na sequência de uma condenação por injúrias à monarquia, acção que motivou acusações de violação da liberdade de expressão.
A mulher terá sido atingida por um projéctil disparado pelos Mossos d’Esquadra (polícia catalã), de acordo com o relato da Irídia, associação de direitos humanos. A confirmação de que os ferimentos foram graves e resultaram na perda do olho chegou do Departamento de Saúde da Generalitat.
A jovem está internada no Hospital Clínico de Barcelona e será operada na manhã desta quinta-feira. De acordo com fontes hospitalares ouvidas pelo El País, a mulher encontra-se em situação estável, não correndo perigo de vida em resultado dos ferimentos sofridos.
O objectivo agora é perceber o que — e quem — causou os ferimentos que vão mudar irremediavelmente a vida da jovem. Nesse sentido, a associação de direitos humanos que denunciou o caso pede que os manifestantes cedam vídeos e fotografias das cargas policiais.
A associação Irídia quer mapear com exactidão em que contexto foi efectuado o disparo desta munição que acabaria por atingir a mulher no rosto. O incidente serviu ainda para a associação protestar contra os métodos usados pelos Mossos d’Esquadra para conter protestos. “Tal como temos avisado há anos, as balas de borracha são muito perigosas e podem provocar lesões graves, inclusive a morte”, afirmou a entidade, citada pelo La Vanguardia.
Rapper detido na terça-feira
Esta quarta-feira ficou marcada por fortes protestos em várias cidades catalãs. O El País escreve que em Vic, localidade a cerca de 70 quilómetros de Barcelona, a esquadra da polícia foi “destruída” pelos manifestantes, que obrigaram os agentes a pedir auxílio após destruírem câmaras de segurança e danificarem linhas telefónicas. Em muitos destes locais, as manifestações acabaram com violência.
Como rastilho dos mais recentes protestos está a detenção do rapper Pablo Hasél, que se tinha refugiado na Universidade de Lérida para evitar uma pena de nove meses de prisão por glorificação do terrorismo e injúrias à monarquia. O músico foi condenado pelo conteúdo de algumas letras, críticas da família real espanhola. A condenação abriu uma discussão sobre uma eventual censura da liberdade de expressão do rapper.
O prazo para o rapper se entregar voluntariamente terminou na sexta-feira. Quatro dias depois, um forte dispositivo policial, formado por dezenas de polícias e duas dezenas de carrinhas da brigada móvel, esteve destacado desde as 6h30 nas proximidades da universidade para proceder à prisão de Hasél. Cerca de meia centena de apoiantes de Hasél refugiaram-se com o artista na instituição de ensino, erguendo barricadas e arremessando objectos contra os polícias que se aproximavam do edifício.
Os esforços foram infrutíferos, com a força policial a contornar facilmente os obstáculos e a identificar todos os que acompanhavam o rapper. Esta ordem de detenção já tinha sido contestada num manifesto assinado por mais de 200 personalidades, que acusaram o Estado espanhol de “encabeçar a lista de países que mais represálias lançaram contra artistas pelo conteúdo das suas canções”, comparando Espanha a países como a Turquia ou Marrocos.