Kathy Koester sente-se julgada. Após um dia intenso a convencer e a encorajar a filha de 7 anos, que tem necessidades especiais, a prestar atenção à escola à distância, receber um alerta sobre tarefas não realizadas faz com que se sinta “em apuros”. Kathy, que vive em Mundelein, Illinois, reconhece que os professores estão a tentar ser solidários, mas a mãe sente-se criticada: “Estou 110% empenhada e a dar tudo o que tenho. Por isso, estas mensagens constantes, que recebo através da aplicação de sala de aula, parecem dizer-me que o meu melhor não é suficientemente bom.”
Testemunhar e reviver
O tom ou o estilo da abordagem de um professor na correcção dos alunos pode ser stressante para os pais ouvirem, constata Regine Galanti, psicóloga e autora de Anxiety Relief for Teens. Uma professora “chamou aleatoriamente alguém por Zoom e esperou que soubesse a resposta, como a criança não sabia, não repetiu a pergunta”, conta Regine, que ouviu esta situação enquanto estava a trabalhar na mesma sala com um dos seus filhos, que estava a ter aula à distância. “Como terapeuta, a minha reacção foi: ‘Não percebe que esta é a maneira apropriada de falar com as crianças?’”
Mas, testemunhar as experiências dos nossos filhos pode também tornar-nos menos pacientes e solidários para com eles. “Somos uma mosca na parede de uma sala onde nunca deveríamos estar”, compara Robyn Silverman, especialista em desenvolvimento infantil e anfitriã do podcast How to Talk to Kids About Anything. Quando ouvimos um professor chamar o nosso filho e este não está preparado para responder, ou quando ouvimos uma interacção social negativa com um colega de turma, é inevitável regressarmos aos nossos dias de escola, aponta a especialista.
Ouvir um professor a chamar à atenção a um filho por não estar atento pode fazer-nos sentir duplamente envergonhados – em nome do nosso filho e em nosso nome. É importante reconhecermos que isso acontece e falar sobre o tema. Aliás, podemos mesmo explicar isso à criança sem nunca falar mal do professor, antes falar sobre os sentimentos e emoções que a questão espoleta em nós.
Sermos os adultos que os filhos precisam
“Na medida do possível, precisamos separar a experiência do nosso filho da nossa”, recomenda Tina Payne Bryson, psicoterapeuta e co-autora de The Power of Showing Up. Se os pais se sentirem demasiado ansiosos ao ler os e-mails dos professores, podem tentar concentrar-se e separarem a sua experiência da dos seus filhos, diz.
Mas os pais precisam estar atentos de maneira a que as suas experiências escolares passadas não contaminem a forma como reagem com os filhos. Por exemplo, uma mãe que era tímida em criança pode ficar especialmente frustrada ao ver a sua filha levantar silenciosamente a mão no Zoom e não ser chamada. Contudo, é positivo se conseguir identificar essa ligação e compreender que é a sua experiência passada que contribui para a frustração que sente e não o que se passa com a criança. Nesse sentido, poderá conseguir assumir o controlo e não deixar que as suas memórias e emoções assumam o controlo. Depois disso, poderá conversar com a criança com outra segurança, ajudando-a a ter ferramentas que a permitam ser mais resiliente.
Bryson tem ainda outros métodos para pais que sentem ansiedade ao ouvir interacções em sala de aula. Por exemplo, usar a técnica de dar um nome àquilo que nos incomoda. Ou seja, nomear com precisão aquilo pelo que a criança está a passar, ajuda a aliviar a ansiedade. Outra proposta é que, se possível, não se trabalhe e estude na mesma sala. Caso não seja possível, que os pais usem auscultadores evitando ouvir o que se passa na sala de aula virtual e concentrando-se no seu trabalho. E, por fim, avisa a especialista, enquanto estiverem ansiosos ou reactivos, os pais não devem entrar em contacto com os professores ou falar com os filhos. Essa conversa só pode correr mal.
Resistir a identificarmo-nos com o fracasso
Podemos sentir que estamos a testemunhar o insucesso dos nossos filhos em directo ou, arrepiar caminho, ouvir o tom de frustração na voz de um professor porque está a leccionar à distância. Ou seja, exemplifica Galanti, podemos pensar: “O meu filho está na berlinda? Mas, racionalmente, saber que o professor pode estar exausto com as exigências do ensino à distância e relativizarmos.”
Portanto, alguns pais encaram esta situação de frente e agem como assistentes do professor, estabelecendo horários e metas, e sentem-se bem por terem o controlo; enquanto outros pais “podem sentir-se derrotados pelo ensino à distância e pensar ‘Não me vou sair bem nisto, voltei à escola...’”. Galanti alerta que este ciclo de vergonha ou de ficar à defensiva pode tornar mais difícil a tarefa de ser pai ou mãe, assim como mais difícil a tarefa dos filhos enquanto alunos. Por isso, pede que reconheçamos que o ensino online está a colocar sobre os nossos ombros um “fardo impossível” de suportar e que os pais precisam de solidariedade para lidar com esta questão.
Evitar navegar entre centenas de e-mails
Sentir-se constantemente chamado à atenção por todas as comunicações que chegam da escola pode aumentar o stress dos cuidadores. Os directores e professores querem manter os pais informados, contudo, para muitos deles, ter um recado na caixa de correio electrónico pode ser um momento de tensão.
Leigh Honeywell, chefe-executivo da Tall Poppy, que ajuda as empresas a proteger os seus funcionários de assédio online, propõe algumas dicas sobre como navegar por entre as mensagens que chegam da escola. Os pais podem criar uma pasta só para a comunicação com a escola e enviar para lá essas mensagens que lerão quando tiverem disponibilidade. Ou, os pais da turma podem organizar-se e pedir a um que, semanalmente, informe o resto dos encarregados de educação sobre o correio que vão recebendo. Os pais também podem pedir, caso não tenham muita confiança com os outros encarregados de educação, a um familiar ou amigo que leia as mensagens e transmita apenas as que considera relevantes. Tal ajuda a reduzir o stress.
Se o ensino à distância incomoda realmente os pais, nada como falar com amigos ou outras pessoas que estão a passar pela mesma situação, a partilha de experiências pode ajudar, por exemplo, a relativizar algumas situações que se passam com os filhos ou com os seus professores.
Bryson defende que as crianças não devem estar constantemente “sob o microscópio dos pais” e, em última análise, estes não devem assistir às aulas. Para o bem ou para o mal, o ensino à distância trouxe a experiência da sala de aula para dentro de nossa casa e podemos usar esta janela para estarmos informados e apoiarmos os nossos filhos. No entanto, também temos de nos conhecer e compreender se isto nos causa demasiada ansiedade. Se for esse o caso, então devemos pedir apoio para nos mantermos firmes, de modo a que possamos ser os adultos de que os nossos filhos precisam neste momento.